terça-feira, 9 de março de 2010

Capítulo 21 ~ Segredos

— Lune Noire, como se atreve a fazer isso comigo?

Parece estranho, mas eu realmente esperava que, depois de um dia tão cheio ontem, o de hoje poderia ser um daqueles discorridos normalmente, sem adrenalina. É, comum, para variar. Um absurdo, eu sei, mas sou uma ingênua irreparável.

Sonhei em chegar na escola e, calmamente, dentro do meu direito de privacidade, contar à Nara sobre o dia anterior. Só a ela.

Como é que dizem? Notícia ruim corre rápido.

Oh, não, não. Não ruim para mim, não é a isso que me refiro. Me refiro a elas, essas garotas todas circulando por aqui, me olhando de maneira macabra. Posso ver as marcas negras em volta dos seus olhos, maldade pura. Instintos assassinos.

Será possível que não posso nem respirar? Ou também roubaram todo o oxigênio do planeta? Passo a correr risco de vida da noite para o dia e nem me avisam?

— Você deveria ter me contado imediatamente de tudo! Deveria ter me ligado assim que enfiaram o nariz para dentro da sua casa!

Nem Nara, que se autodenomina minha melhor amiga (desconsiderem que também a denomino assim, estamos tentando denegrir sua imagem) pôde me dar um segundo de sossego.

Não… sossego para Lune? Para quê? Ela não precisa disso.

Mas prefiro ir para uma parte do relato mais interessante, não quero me estender sobre o sermão/desabafo de Nara. O legal mesmo é que: depois do sermão/desabafo que acaba de ser ignorado, sua autora me avisa que: todo mundo (ou melhor, toda a população feminina do colégio acima de 11 anos) está falando de mim como nunca na vida. Afinal, é uma novidade incrível: eu, Lune, praticamente a menos interessada em garotos da escola, começa a se envolver com um.

O que é mentira, porque eu não estou envolvida com ninguém.

Não por falta de vontade. Mas elas não sabem disso.

Eu não sei o que você acha, mas não é uma ótima maneira de começar o dia?

Ao que parece, Fantine – uma das melhores amigas de Nicole e, também, a maior fofoqueira que provavelmente conhecerei em minha vida – mora perto da casa onde Luan está morando. Ela anda passeando muito com seu Pinscher pela redondeza ultimamente e justamente na hora que meu pai querido foi buscar a família Chermont, ela estava esticando as pernas do cãozinho. Ali.

Bem, aí vocês já sabem, provavelmente a homicida ligou um fato ao outro e telefonou para todo mundo que conhecia para contar a novidade. "Ah, Lune está se achando, como a garota poderia tirar uma conclusão dessas?", vocês perguntam. Eu respondo: a) ela é aliada do partido que acha que eu sou filha do Diabo; b) segundo relatos, ela viu papai e sua noiva beijarem-se rapidamente antes de entrarem no carro, então, não tirou tantas conclusões brilhantes assim; e c) ela conhece meu pai, o viu ano passado quando ele veio bater um papo amigável com a diretora porque um menino tinha tentado me dar um beijo e eu bati a cabeça dele num projetor de imagem.

Qual é, tudo bem que sangrou um pouco, mas foi reflexo, não tive tempo de pensar. Autodefesa.

E isso são águas passadas.

Até gente que nunca se importou muito com minha existência ficou me olhando estranho na aula. Sem motivo nenhum, se quer saber minha opinião, eu não tenho culpa se meu pai sabe escolher as famílias com quem se envolve. Não sou eu que estou com o cara, é meu pai que está com a mãe dele, não posso mudar isso, felizmente.

Infelizmente, quero dizer.

Mas, no fim das contas, o pior mesmo da história não são os olhares psicopatas das garotas de todo o colégio Papai Noel. O pior mesmo foi o que o animal chamado Phillip fez. Sério, eu sei, é cruel, mas o cara parece que não pensa! Eu não faço idéia do que isso faz no planeta terra, por mim ele deveria estar, sei lá, virando bacon em Mercúrio.

Eu, que já estava bem enrolada, obviamente não precisava de mais um show no meio da escola para piorar. Na verdade, comigo as coisas pioram sem eu precisar fazer nada, mas já que Phil é uma alma gentil e altruísta, ele quis ajudar. E fez isso vindo berrar em pleno intervalo falsas acusações contra minha santíssima imagem. E isso acarretou uma série de comentários, que acarretaram uma defesa espetacular e a defesa espetacular acarretou vários outros comentários. Ou seja, meu dia virou uma bosta.

Calma, eu explico.

Eu estava saindo da sala, sabe, só saindo da sala. Caminhando tranqüilamente, pensando em como o dia estava lindo e perfumado, acabei sendo – junto com Nara e, como vi posteriormente, Phil – uma das últimas a me retirar do recinto. Até aí estava tudo bem, não há nenhum problema nisso. A encrenca mesmo teve início quando Phil surgiu ameaçadoramente sabe Deus de onde e bateu a porta com força, fechando nós três lá. Foi quando ele começou a… a… vomitar palavras na minha cara.

A intenção dele, acho, até foi boa, tentando improvisar um lugar reservado para dar o escândalo. Porém, todas as janelas, além de serem de vidro, estavam escancaradas e isso não ajudou muito a abafar o som. O pior é que, como a sala estava vazia, fazia um certo eco quando ele gritava.

— Qual vai ser? – ele "dizia" – Você vai ser irmã desse cara e o que vai ser amanhã? Acha que não sei que está pulando de alegria com isso?

Ele falava dúzias de coisas. É sério, sem parar.

E se estivesse, irmão, e daí, e daí?! – minha consciência dizia. Mas, como sou uma porcaria de boa menina, continuava em silêncio, pensando o quanto meu nome deveria ser escrito no cânon. "Canonizem Lune!" eles ainda hão de clamar.

Percebia Nara me olhando assustada, mas eu mantinha meus olhos cravados nos dele. Meu maior esforço era tentar não prender minha atenção ao que Phil descontroladamente fazia passar pela boca, mas sim olhar para sua face insana enquanto respirava e esvaziava a mente.

Acabei, sem querer, notando que Phil é um cara de físico realmente decente. Sabe aquela aparência tipo inglês sacana, que a gente encontra numa rua perto de um pub qualquer, com um cigarro na boca, olhos cerrados e cabelo jogado? Então, tipo isso. Não que Phil realmente fume, beba ou seja um canalha, estou falando apenas do estilo. Tem muita mulher por aí que se desdobraria por um cara assim, com ar de cafajeste, ainda mais ele não sendo realmente um. Ou não totalmente.

Mas, bem, eu tenho que admitir que, apesar de todos os defeitos, ele poderia ganhar muita coisa com esses olhos verdes, é só tirar esse ar obcecado de cima. O cabelo dele lembra aqueles cortes tigelas, que as mães geralmente fazem quando tem preguiça de levar o filho num profissional. É, eu sei, aquilo é brega, mas eu disse que lembra, apenas. Acreditem em mim, ficou muito bom mesmo. Me lembra um pouco Paul McCartney nos tempos de ouro dos Beatles.

Quase ri com isso.

Será que esse cara não vai calar a boca?

— … eu não acredito, simplesmente não posso acreditar que você vai deixar isso acontecer bem em baixo do seu nariz… – continua, incansável. Essa situação já está começando a dar no saco, juro por Deus. Exausta, me dou por vencida e apoio minha cabeça no ombro de Nara, fechando os olhos. A expressão de desprezo no meu rosto está bem visível e juro que se tivesse uma lixa de unha a estaria usando. Sabe como é, dá um efeito muito legal de: “mimimi, nem te ouço”.

Então, me surpreendo quando meu eficiente suporte sai de meu alcance. Vejo Nara passar apressada pela porta e virar à esquerda, mas a perco de vista, graças a todos os curiosos próximos da sala que olham descaradamente ou fingem não olhar. Momentaneamente sinto raiva deles, mas não posso culpá-los. Também estaria olhando se não fosse comigo.

Ótimo, estou levando bronca, passando por macaco de circo, quinze vezes mais mal-humorada e, agora, sozinha (tirando as dezenas de pessoas em volta, mas esqueça delas). Grande amiga Nara, grande. Batam palmas para você.

Mais alguns minutos correm e é quando começo a pensar em quantos adjetivos não-legais posso achar para Phil por ordem alfabética que ele diz algo imperdoável:

— Vocês vão morar juntos! Sabe o que é isso? Por mais que você esteja caída por ele, isso é demais!

Então, juro para vocês, mesmo que eu tivesse visto Nara se aproximar com Luan ao seu calço, eu teria dito o que disse e feito o que fiz. Sério.

Qual é a dele? Ele disse que eu estou caída por Luan? Que se dane se estou mesmo ou não, ele não sabe disso!

— Você é doente? – perguntei com raiva.

Apesar da frase pequena (infelizmente foi só o que saiu por hora) o efeito foi muito bom. Phil, que obviamente não esperava pela manifestação, calou-se por alguns instantes. Foi lindo ver a cara de idiota que ele ganhou, mesmo por pouco tempo. Foi mais ou menos nessa hora que vi Luan se aproximar. Os cochichos cessaram e ele – meu príncipe super pegável – abriu sua boca para falar alguma coisa, porém, foi interrompido pela fúria acumulada de Phil, que decidiu explodir no pior momento possível.

— VOCÊ É QUEM É! – berrou, descontrolado, encarando meus olhos com fúria. Até pude perceber babinhas pulando de sua boca.

O meu primeiro impulso foi gritar novamente, mas toda essa vontade morreu assim que vi a expressão no rosto do Luan atrás dele.

Quando em minha vida eu poderia imaginar que um cara tão lindo e calmo quanto Luan, poderia se tornar tão ameaçador? Ao me deparar com seu rosto fitando a nuca de Phil como se a quisesse fazer pegar fogo, cheguei a me sentir diminuir alguns centímetros. Toda minha impaciência foi substituída pelo instinto concreto de que eu deveria calar a boca. É sério, fiquei até meio paralisada, tipo isso.

Mas me recuperei logo, não se preocupem.

Bom, voltando à narrativa: foi tão divertido!

— E quem é você pra falar da vida dela? – Luan disse, agarrando a camisa de Phil e com a voz parecendo terrivelmente perigosa, principalmente em conjunto com o cenho franzido. Phil arregalou os olhos com a surpresa e tentou se manter em pé enquanto Luan avançava alguns passos para frente. Acredito que seja difícil manter o equilíbrio quando tem alguém com uma expressão homicida segurando sua camisa e fazendo você andar de costas.

Eles se encararam por algum tempo e assim que Phil se recuperou do susto, engoliu em seco, fez aquela cara de "mamãe, ele está brigando comigo" e mandou:

— E quem é você pra encostar essas mãos sujas em mim?

— O mesmo cara que pode fazer você engoli-las.

— Eu não como porcaria.

A temperatura da sala pareceu cair para -35. Ouviu-se um "uhhh" do lado de fora da janela e eu ergui as sobrancelhas. Bom, o quê mais poderia fazer? Ele é maluco.

Olhei para Nara e tive uma inoportuna vontade de rir. Ela abriu a boca de um jeito muito engraçado. Ah, cala a boca Lune, presta a atenção na briga.

Vocês me desculpem sabe, é que estou feliz porque não estou mais envolvida.

Primeiramente, pareceu que Luan não sabia o que responder, pois ficou em silêncio. Mas depois percebi que ele estava sorrindo. Mas não era um sorriso normal. Era aquele sorriso meio de lado, com os olhos pegando fogo, aquele tipo de sorriso que a gente vê só nos vilões maus e lindamente inteligentes dos filmes da TV. Ele sorriu, endireitou o corpo, mas manteve a mão firmemente presa na camisa de Phil. Aí ele virou pra mim.

— Lune, venha aqui.

— O quê? Eu? – falei com uma vozinha aguda, arregalando ainda mais os olhos.

— Venha aqui.

Se fosse em outras eras, eu teria perguntado quem ele era para mandar em mim. Mas na atual circunstância, o melhor que fiz foi obedecer. Parei a cerca de um metro e meio de distância deles.

— Mais perto.

Oh, grandessíssima merda.

Dei mais um passo e meio.

(Existe meio passo?).

Então, Luan fez um movimento brusco e forçou a nuca de Phil para baixo. Ele bem que tentou escapar, mas estava muito próximo da parede e, ao ir para trás, não teve para onde fugir. Tentou dar cotoveladas em Luan com o braço direito, mas Luan o segurou firme.

— Peça desculpas – Luan disse com simplicidade. A voz dele estava calma, seca, e o ar superior era bem visível.

Luan é forte, mas não é o Senhor Incrível. Acredito que se ele e Phil estivessem em um estado diferente, a luta seria muito justa. Acontece que, como Phil é infinitamente mais burro, deixou a situação chegar num ponto que ele não tem como se mover direito. Aí… fazer o que, se ferrou.

Só que, caramba, eu tava tão bem no meu cantinho.

— Luan, não… – grunhi.

— Vamos! – ele forçou ainda mais o pobre e otário Phil para o chão.

— Ah, o.k., o.k., desculpa! – Phil, por fim, ainda que de má vontade, acatou a ordem de Luan. Acho que não por que quisesse, mas sim porque viu que não tinha outra saída.

Que perdedor.

Assim que as palavras foram soltas, Luan o largou imediatamente. Calmamente, foi saindo de perto, porém, logo que virou de costas, Phil – agora não mais o cheira-nucas e sim o suicida – disse baixinho, mas bem audível: "babaca".

Logo que vi Luan se virar com o mesmo olhar psicopata no rosto, entrei rápido em sua frente e pisei com toda força da minha alma no pé de Phil. E quer saber? Doeu. Foi o suficiente para mantê-lo ocupado com a própria dor e, também, distrair Luan até podermos sair dali sem maiores conseqüências. Enquanto eu virava de costas e chegava rápido até a porta, resistindo ao desejo de, como da outra vez, voltar e cuspir na sua cara inglesa, vejo três garotos da nossa turma se aproximarem e irem em sua direção.

Obviamente eu queria acabar com aquilo de uma forma marcante, batendo a porta e tudo, mas a curiosidade me pegou e não pude sair antes de ver o quê eles pretendiam se metendo na confusão. Os três acabaram se posicionando em volta de Phil. Delano, o único que eu conhecia de fato, propositalmente ficou entre nós.

Assim que Phil não pode mais me ver, aconteceu uma coisa estranha. Ele segurou a cabeça com as duas mãos e apertou as têmporas, suspirando alto. E aí, perguntou:

— Cara, que dor. O que foi isso?

Aí eu já não entendia mais nada.

Quer dizer, como assim?

Olho para Luan, que ainda encarava o chão com raiva, porém, com um ar pensativo nos olhos e percebi que alguma coisa além da minha compreensão estava acontecendo. Quer dizer, Luan, Delano, todos os outros pareciam saber de algo que eu claramente não entendia e, quando estava pronta para perguntar o que era aquele clima todo, Delano, ainda sem se mover, diz:

— Acho que é melhor vocês irem agora.

Mesmo sem entender, pensei por alguns segundos e decidi seguir a instrução. Não sei ao certo por que, mas de repente me vi olhando para o rosto de Delano e confiando nele.

Acho que não tinha falado sobre Delano antes, mas a verdade é que nos conhecemos há anos. Ele é uma das pessoas que sempre estiveram por perto, na mesma classe, esbarrando comigo pelos corredores, mas, infelizmente, não fazem mais parte da minha vida. O que me incomoda, de certa forma, porque há uns três anos costumávamos conversar e eu sempre senti grande afeição por ele. Gostava da sua companhia.

Mas, como aconteceu com todos os caras que eu convivi, ele se apaixonou. De uma forma não recíproca. E acabou sendo apenas mais um dos muitos que se pouparam da minha presença.

Passei dando um leve toque em Luan, esperando que me seguisse. Para o bem geral de nós três, Luan entende o recado e, junto de Nara, me acompanha na saída apressada sob o silêncio do pátio.

Um comentário:

  1. Preciso de mais ALine *-* Pliss manda uns capitulos pra nois (pra mim ;D) queria ler ele todo de uma vez Mas vc nao manda por E-mail mais ¬¬' Entaum posta ele todinho aki ;D kkk' mais antes registra ;D ...Aiaia curiosa akii e aalem disso ameii o livro (pelo menos oq li ate agora) Vc é uma OTIMA escritora ... sera que vai ter filme ?!! imagina lah uma filme com a Lene e o Lean *-* aii Morri *-* Tahtah sem mais delongas terminanduh o meu comentario que viro texto ... MADA MAIS CAP.S PRA KA PLISSS ....

    P.S.:Se eu morre por curiosidade alheia VC que paga a indenisação *-*

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