sexta-feira, 23 de abril de 2010

Capítulo 31 ~ "Algo Diferente"

Ic.

Estão ouvindo?

Ic. Ic.

Pois é, eu também.

— HÁ HÁ HÁ! – uma longa e barulhenta tomada de fôlego – HÁÁÁ HÁ!

—PARE Chantal! Oh, sua vadia, está fazendo Isabelle morrer de vergonha!

Lune – Nara cochicha ao meu ouvido – algo não está certo.

Ic.

— Cale a boca, Nicole! Ela está piando igual a um passarinho!

Por que não está certo? Eu estou achando ótimo – cochicho de volta.

— Isso se chama SOLUÇO, sua anta, e você está gritando igual a uma garotinha vendo a Britney Spears! – censurado – que pariu, você é uma desgraça mesmo, pare de rir como uma velha que foi – censurado – decentemente pela primeira vez em anos, eu estou com dor de cabeça!

— Alguém pode me emprestar um gravador, eu preciso ter isso de recordação – digo.

Vejo Luan olhar para todas as cinco com uma expressão totalmente, totalmente abismada.

— Eu tenho um – diz Lise, sentada ao meu lado – ele é meio velhinho, mas vai servir.

— Ótimo, ótimo. Está aí?

— Sim, sim, está aqui no bolso já, é de praxe – diz ela, tirando o aparelhinho do pijama.

Bom, o quê posso dizer? Pouco tempo depois de Chantal ter, corajosamente, se oferecido para tomar mais um gole, a carinha comovente de Lise a convenceu a tomar um pouco mais. Quando eu vi, a pobre ruiva estava persuadindo insistentemente suas companheiras a fazer o mesmo, talvez por querer não ser a única a engordar, talvez por simplesmente ter enlouquecido. Mas o fato é: todas tentaram, ao menos mais um pouco, ingerir a meleca calórica. Sabe como é, “por Luan!”, como Chantal disse em determinado momento.

E deu nisso.

— Nara, me empresta esse seu copo – Phil dirige-se à minha amiga. Ela lhe entrega o copo. Ele cheira, faz uma careta, cheira melhor e experimenta um gole muito pequeno. Depois, projeta uma careta imensa.

— Nossa, realmente é como tomar mel com açúcar – conclui.

— Isso todo mundo já sabe, gênio – Lise ironiza.

— É, gênio. Mas dá pra perceber que tem "algo diferente" aqui.

— "Algo diferente"? – Nara parece surpresa.

— Sem dúvida, gata – Phil diz, ainda observando o copo.

Mesmo que ele tenha dito isso numa casualidade óbvia, senti Nara estremecer um pouco.

Oh yeah, baby. Muito "algo diferente" – diz Lise.

— O que seria esse "algo diferente"? – pergunto.

— Só tem uma coisa que poderia causar o efeito que estamos vendo – diz ele.

— O quê? – insisto.

— Você é meio inconseqüente, não é? – Phil pergunta tranquilamente, me ignorando.

— Na verdade, não. Apenas "algo diferente" significa noção imediata do fato e isso não podia acontecer. Fui esperta o bastante para solucionar o problema.

— Claro, aí você jogou três quilos de açúcar dentro de uma jarra de um litro cheio de… bom, “algo diferente”.

— HÁ HÁ HÁ! Eunãoconsigopararderir! – longa e barulhenta tomada de fôlego.

Por que ninguém me responde o quê é?

— Ela tem razão, quanto mais açúcar menos dá pra notar – Nara, após experimentar um gole microscópico, também já entendeu do que se trata o “algo diferente” – mas mesmo assim, não teria resultado nessa cena toda com tão poucos goles. Muito menos em tão pouco tempo.

Lise abaixou-se em nossa direção, fazendo sinal com o indicador para abaixarmos também.

O segredo, chérie – sussurra – é a mistura.

Ic.

— Impossível – Nara diz, inconformada – você não pode ter treze anos.

— Eu assisti muito "O Pimentinha" e filmes afins. Apenas aperfeiçoei o dom – a pequena sorri.

— Fico imaginando quanta mistura de "algo diferente" tem aqui dentro – Phil conversa com o copo.

Eu desisto de tentar saber o que é o "algo diferente".

Ic.

— Chantal está tão rosa que parece uma porca! – uma grita, apontando e se dobrando de tanto rir. O engraçado é que ela ri sem soltar som algum.

— Que saco Cécile! Não tem respeito por alguém morrendo de dor de cabeça, que inferno, vai tomar no – Nicole grita, irritadíssima, segurando os ouvidos com as mãos.

— Isso pode nos trazer problemas – Nara parece preocupada.

— Isso se elas se lembrarem – diz a cabeça do crime.

— Mesmo que lembrem, duvido que vão conseguir saber o porquê – observa Phil.

Luan envia olhares que parecem flamejantes na direção de Lise.

— Lune, que pena que não experimentou a bebida. Eu estava quase apostando que você não ia se ligar a tempo – a menor fala. Sacana.

— Você acha o que? Pareço burra? Eu me dei conta imediatamente do perigo e me livrei do problema sem o menor esforço.

Qual é, uma mentirinha para salvar o orgulho não pesa.

A propósito, Lune – Lise sussurra ao pé do meu ouvido, abrindo um sorriso mais largo de um lado só (coisa que me dá arrepios) – Luan estava sem camisa no quarto, quando fui chamá-lo.

Meu estômago simplesmente quis trocar de lugar com minha garganta. Senti a boca secar em segundos. Tão seca que não me surpreenderia se tivesse grãos de areia.

Maldita. Foi por isso que ela se ofereceu para chamar o desgraçado no meu lugar.

Ficamos mais uns minutos admirando o ambiente, eu ainda pensando em Luan sem camisa, saindo do banho. Phil agora estava quase colado comigo, e de fato estaria, se não fosse Nara em seu caminho. Ela parece estar um pouco irritada, seus joelhos estão apertados porque ele não pára de se aproximar e parece nem estar notando sua presença. Eu já tentei me afastar três vezes.

Com uma irritação profunda na voz, Nara fala ao meu ouvido:

Será que podemos conversar lá fora?

Eu a olho com uma expressão de interrogação, mas faço um sinal positivo. Levanto e atravesso a sala, passando pela porta colorida que dá acesso à lateral da casa. Vejo Luan me acompanhar com os olhos, mas finjo nem ter notado.

Qual é, ele não está lá com todas elas em volta, babando? Tem cinco garotas ali, indo do cacheado ao escorrido, dos arcos de cabelos às franjas, do louro feio ao ruivo. Eu não entendo. Quem precisa de louro-prateado e olhos amarelos quando se tem isso?

Eu já não sou normal mesmo, posso correr o mundo atrás de alguém que também tenha uma disfunção genética e formar uma nova civilização.

Ou virar uma solteirona e entrar pro Greenpeace.

Pense bem, melhor do que entrar pro grupo feminino de coreografia, como minha professora de ballet sugeriu há alguns anos atrás. Eu disse: "não, obrigado, prefiro ser gente". Não que garotas de grupos de dança não sejam gente, eu adoro dançar. Mas é que as meninas da minha escola não são. Um dos requisitos para entrar é não ter namorado (um dos motivos pra ela ter me oferecido a vaga), pois o grupo exige muito tempo de dedicação. Ao menos foi essa a desculpa dela. Todo mundo sabe, entretanto, que o motivo da exigência é o grande "assedio" do público masculino, se é que me entende. O grupo de coreografia feminino é quase como um certificado de "sou bonita e gostosa" e os figurinos que elas escolhem costumam mostrar bem isso. Dá para sacar, facilmente, que o público masculino não assedia ninguém. Ele apenas estende a mão e pega o que lhe é ofertado.

Por isso gostava mais do ballet.

Sentei na fonte do jardim.

— Lune… – parei ao ouvir a voz de Nara ao meu lado. Tinha até me esquecido de que ela estava ali.

— Você merecia uns cascudos, hein? – disse irritada, mas em um leve tom de brincadeira.

Porém, engoli a voz. Ela não parece bem.

— Desculpe, mas não consegui evitar que viessem – dizia, fitando o chão – na verdade vim mais para me desculpar por isso. Seu pai me ligou hoje de manhã contando a história toda e pedindo para eu avisar a direção. O professor anunciou para sala que você não estava bem e por isso Luan também não tinha aparecido. Você sabe, depois disso fizeram comissão para vir te ver. Me ameaçaram dizendo que se eu não explicasse o caminho iriam jogar meus cadernos no lixo ou abrir um frasco de shampoo dentro da minha bolsa, igual ano passado. Já que foi assim, preferi vir junto, pra pedir desculpas.

E eu aqui brava com ela. Ah, Lune, você é uma porca sem coração.

— Ah, Nara, não deveria ter se preocupado com isso – falei, totalmente sem graça. Estou com vontade de pegar Nara no colo – como elas tiveram coragem de falar isso pra você? Deveria ter me contado!

Mas ela não me respondeu. Não falou nada. Olhou para o chão, com um sorrisinho que nem deveria ser sorriso.

Estou me sentindo péssima.

— A minha vontade era pegar uma por uma e afogar aqui nessa fonte – disse, para tentar fazê-la se sentir melhor. Porém, ela abanou a cabeça.

— Não precisa. Já estou acostumada. E duvido muito que fossem de fato fazer aquilo, falaram apenas porque… bom, deixa pra lá – ela ergue a cabeça e seus olhos me parecem um tanto brilhante.

— Bom, Lune – Phil fala de repente, me assustando – eu também vim só para me desculpar, por ontem, sabe como é. E pra te ver, claro, adoro fazer isso.

Me desculpe Phil, mas não estou nem aí para suas cantadas agora.

— Anh… então, vou indo – ele fala com um sorriso encantador.

— O.k.

Desculpem, foi o máximo que saiu.

O cara bonitão de olhos verdes lança um sorriso ainda mais charmoso em minha direção e caminha para o portão. Percebo que minha amiga o observa se distanciar, com os olhos meio caídos. Depois volta sua total atenção para o chão. Há poucos metros de Phil desaparecer de vista, volta a falar:

— Ele ficou muito preocupado quando o professor disse que você tinha passado mal.

Houve uma pausa constrangedora entre nós. Quer dizer, eu não tinha o que falar, fiquei meio sem ação. Estava pensando em dizer algo como: "ah é?" ou "sério?" só para não ficar em branco, mas não consegui nada além de balançar os ombros.

Então, solta um suspiro pesado.

— Tenho que ir – fala, sem me olhar nos olhos.

Nem ao menos me abraçou como sempre. Algo definitivamente não está bem.

Quer dizer, desde que chegou percebi que estava um pouco para baixo, mas achei que fosse só pela companhia. Mas agora, parece que o problema é comigo.

Fiz mesmo alguma coisa que a deixou assim?

Alguns passos à diante ela se vira.

— Seu pai contou que deixou você ficar em casa à tarde por causa de um compromisso hoje. Espero que seja divertido.

— Compromisso? – pergunto totalmente espantada, com os olhos arregalados e tudo. Eu não lembro de compromisso nenhum.

— É… ele disse que como vocês iam sair e ele não iria conseguir desmarcar, preferiu te dar o dia todo em casa.

— E… – pergunto, com medo da resposta – ele por acaso contou qual seria esse compromisso tão importante?

Ela me olha com uma cara estranha, como se estivesse pensando como eu posso ser tão do jeito que sou. Tem alguns dias que até eu me surpreendo. Na verdade, todos os dias eu me pergunto como consegui chegar ao Lycée.

— Vocês vão jantar, Lune. Imagino que seja em um restaurante de alto nível, ele não desmarcou o jantar de hoje porque só conseguiria outra mesa sexta-feira em mais ou menos quinze dias.

O desespero começa a fazer minhas mãos suarem. Não, jantar em família não, por favor.

Então lembro das caixas sobre a minha poltrona.

Ela tem razão, é um restaurante de alto nível. No mínimo, o que a caixa guarda é o vestido.
Eu sei o que está acontecendo. Papai fica com peso na consciência por não poder passar mais tanto tempo comigo e, como Victoire sente o mesmo, eles unem o útil ao agradável nos levando em seus passeios.

Quem sabe eu deva explicar pro meu pai que tentar repor os preciosos minutos que perdi com ele ao lado de mais três pessoas não é o ideal. Quer dizer, não funciona.

Eu já estava de saco cheio antes, agora, depois dessa tarde, estou perturbada. Principalmente se tratando de Luan. Para minha própria sanidade mental, acho que não deveria ir. Porém, quando digo isso a Nara, ela me lança um olhar, no mínimo, muito assassino.

Pude sentir um quase ódio florescer em seus olhos.

— Como assim "acho que não vou"? – o tom de ira usado nessas poucas palavras me fazem encolher pelo menos três centímetros. Aquele tom baixo e pausado que te dá a impressão de perigo iminente. Eu poderia ter dito alguma coisa, mas minha voz desapareceu. Engoli em seco.

— Escute aqui, Lune Noire – sua voz ainda é baixa e suave. Seus olhos brilham a chama da revolta e da destruição do mundo. É sério, a menina incorporou alguma coisa – você vai nesse jantar. Vai usar um vestido lindo. Vai usar uma linda fita no cabelo e uma linda maquiagem nos olhos. Não se atreva a vir com essa só porque está com dor-de-cotovelo.

— Mas… – tentei argumentar em minha própria defesa, porém, sem chance. Ela estava com raiva. E quando Nara está com raiva, você não tem chance contra ela, porque em 99,7% dos casos ela tem razão. Poucas, muito poucas vezes na minha vida eu a vi assim, para vocês terem idéia, e olhe que ela é minha melhor amiga há anos.

— Eu sei e você também deveria saber que é muito mais bonita que qualquer uma delas lá dentro – finalmente o rostinho Serial Killer se afasta do meu nariz, deixando os cachinhos voltarem para seus devidos lugares sobre os ombros – se está com tanta dor-de-cotovelo assim, está fazendo totalmente o contrário do que deveria. Você deveria entrar naquele quarto, se arrumar como nunca e passar por Luan de um jeito que o faria engasgar com esses fios prateados que você carrega na sua cabeça.

— Que, inclusive, deve ser a única utilidade dela – acrescenta, de uma forma cruel.

Senti minha bunda quase quebrando o cimento, tamanha minha vontade de entrar nele. Eu preferia que Nara tivesse me batido, eu me sentiria melhor.

— Seria muito bom se – ela recomeçou – ao invés de ficar se fazendo de menininha mimada que não tem o que quer, você fosse você mesma, tentando pelo menos fazer ele enxergar o que está perdendo. E eu acho que é isso que você vai fazer, se não quiser ter uma morte bem dolorosa e esmiuçada.

— Ma…

— Você entendeu, Lune? – ela termina com o rosto a mais ou menos dez centímetros do meu e eu, de fato, calo a boca. De medo.

Essa foi a pior esculachada que já tomei na vida.

— Eu não sei o que aconteceu com você, você não era assim.

Me lembrem, por favor, de nunca mais me fazer de imatura na frente da minha grande amiga, para minha própria saúde.

— Agora eu tenho que ir – ela se recompôs, ainda me encarando fundo, e eu concordei com a cabeça – você vai fazer o que eu te disse?

Concordei com a cabeça (de novo). Depois, ela me lançou um breve sorriso e virou as costas. Deu alguns passou e virou de novo.

— Você não sabe a sorte que tem, Lune.

E foi.

12 comentários:

  1. aaaaaaaaaaaaaaaaaaa. OBG, OBG, OBG, OBG.
    Você é a melhor, continua assim. nao para (:
    HSOFUFGGGKFHG bgs ;*

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  2. AI.MEU.DEUS!!!! O que foi isso!!!!! Jesuus, como a Lune pode ser tão lerda??? ahsuahsuahs
    Mas o capitulo está fantastico!!!!! E eu quero mais!! não para!!!!

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  3. Perfeito *-* AAAhhh quero mais .. *-* +++++++ s2 Continua Assim ;D

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  4. eu ainda não sei o que é o"algo diferente".

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  5. Eu tbm nao sei oque é O tal "algo diferente" mais Hey eu PRESISO DE MAIS !! SERA QU DA PRA POSTAR ??!!???

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  6. aaaaaah, eu comecei ler na semana passada, e simplesmente nao conseguir parar!li tuudo!
    meldels ta mtmtmtmt boom!
    PF POOSTA MAIS LOGO!

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  7. Genteee eu queroo maiis. estou anciosaa para a continuação!
    Beijoos. Visitem-me: http://naty.wonderland.zip.net/

    beijooos

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  8. Eu tbm nao sei oque é O tal "algo diferente" [+1]!!!
    Uhuu grande Nara, adorei!!!
    Quero mais!!!

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  9. Eu tbm nao sei oque é O tal "algo diferente" [3 ou 4]!!!

    Nara do mal.

    QUERO MAIS!!!

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  10. Eu sei o que é o "algo diferente" HUAUHAUHAHUA

    Eu quero o livro A-GO-RA! *O*

    <3

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  11. eu sabia o que era "algo diferente"... aí eu esqueci, e agora não lembro mais '-'
    eu LEMBRO, quando eu li pela primeira vez eu sabia, mas depois.. :/

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