segunda-feira, 19 de abril de 2010

Capítulo 29 ~ Doce Criança

Ele deve ter acabado de sair do banho. Nem fez questão de secar o cabelo. Claro, é um cretino, gosta de se sentir o gostosão. Exibir a sua essência de "pegador".

Não, só pra vocês terem uma idéia: sabe quando você não seca as costas direito e, quando põe a blusa, ela fica grudada com enormes círculos transparentes delineando cada mísero músculo?

Voilà.

Senti um arrepio na espinha quando vi aquela camiseta colada nos ombros de Luan. Sim, porque é automático. Você vê um cara assim e imediatamente imagina a camiseta evaporando, dando lugar à pele, lisa, macia, cheia de gotinhas de água…

O maldito fedia a charme.

Engoli em seco e fingi que não era comigo. Mas todas as outras da sala, menos Nara, pareceram saltar de êxtase ao ver o cara alto, forte, molhado e sensual descendo as escadas da minha casa, esfregando o cabelo e fazendo espirrar agüinha por todos os lados. Sem falar que, como a camiseta não era um absurdo de comprida, seu braço levantado a fez subir, deixando um fio de pele à mostra. Sim, bem no ilíaco. Sim, com a calça jeans caindo, frouxa. Sim, com um pequeno pedaço de tecido preto aparecendo. Aquele pedaço de tecido preto.

Só bastava uma piscadinha e ele teria qualquer uma de nós aos seus pés, sem nem fazer esforço. Eu seria a primeira a correr.

O que é isso Lune? Que falta de amor próprio.

Quase me dei um tapa.

Com muito calvário e sacrifício, tirei os olhos dele, do seu ilíaco e do pedaço de tecido preto. Também fingi não notar todos os cumprimentos de diferentes níveis de sedução destinados à sua pessoa (desde beijinho certeiro na bochecha até aceno com cruzada de pernas). Acabei parando em Lise. Ela parecia infantil dentro do pijama que vestia. Se bem que, depois de ter a oportunidade de vê-la com vestimentas grunge, jamais alguém se deixa levar por algo tão banal como pijamas.

O quê? Ah, sim, um pijama. E pantufas. De patinhas de urso. Ela vestiu isso o dia todo, disse que estava com preguiça, não dava a mínima para que horas fossem nem para o fato das pantufas darem chulé e mandou tanto eu quanto Luan tomar… bem, tomar. Mesmo ficando meio surpresa, achei bastante adequado para o tipo.

A criatura me olhava curiosa. Fico imaginando o que ela estaria pensando, com esse ar esquisito.

— Já sei! – ela mandou, de repente, forjando a voz para transformá-la em algo suave – vou fazer um suquinho pra gente, que tal?

— Meu Deus, isso não seria perfeito? Obrigada Lise! – disse Chantal.

Um coro de "Meu Deus, isso seria mesmo perfeito, obrigada Lise!" seguiu-se.

Não as culpe. Elas não são garotas más, não são cruéis e não são treinadas para humilhar e planejar a destruição dos outros, essa é apenas a minha forma de ver as coisas. Não esqueçam que eu sou a narradora aqui e faço o que quiser com isso.

— Então, Luan, que anda fazendo nessa vidinha sem graça dentro de casa?

— Ah, o de sempre, comendo, dormindo, respirando, tocan…

— Ai, que coisa chata! Por que não sai com a gente pra se divertir?!

— Sim, nós saímos sempre tão sozinhas…

— Verdade, tão solitárias, indefesas, cinco garotas pela rua ao anoitecer…

— Você iria adorar!

Querem saber, esqueçam quem narra essa bosta. Elas devem ser mesmo crias do capeta.

Lise aparece 15 minutos mais tarde, com uma bandeja.

— Quem gostaria de uma bebidinha? – ela fala com uma estranha ênfase no "bebidinha". Sorria como uma modelo de consultório de ortodontia. Logicamente, todas soltaram exclamações de prazer, já que a irmãzinha bonitinha do gatão ali é muito querida por ele. Eu, distante, no parapeito da janela, desejava arrancar Nicole e sua amiguinha desconhecida à mordidas de perto de Luan.

Para quê? Ele nem ao menos olhou para mim desde que desceu.

Lise começou a distribuir os copos, recebendo piscadinhas frenéticas de todas e retribuindo o gesto. Estranho ver uma garota como ela, que usa jaquetas gigantescas e calças retalhadas interpretando um papel tão… puro.

Ela passa por mim e me dá um copo, fazendo um cortejo. Sinceramente, me surpreendi. Eu pensava que ela ia, sei lá, botar fogo na cozinha, jogar merda no cabelo delas, arrancar saias. Mas não, ela volta com uma bandeja cheia de suco.

Decepcionei.

— Esperem meninas, esperem! Faltou o brinde! – diz Chantal.

Um clique estalou na minha cabeça quando vi Lise se animar toda e dizer com um brilho nos olhos:

— Ótima idéia, assim todas tomam juntas!

Ah, meu Deus.

Ela…

É claro.

E a desgraçada nem me avisou de nada!

Olho para Luan e percebo que suas mãos estão vazias. Santo Cristo, como eu sou imbecil! De que me servem um belo par de neurônios no cérebro se eles nunca se cumprimentam? E o que eu faço com esse suco?

— Vamos brindar o quê? – diz Lise, com uma vozinha inocente. É fácil enganar todo mundo com essa carinha de criatura de Jesus.

Calma Lune, relaxa, desencana. Tudo que você precisa fazer é pensar.

Ah, claro.

É só não beber. Óbvio, bota na boca e finge que bebe.

É.

… E se ela colocou algo perigoso aí? E se minha boca amortecer? E se tiver tinta nesse troço? E se tiver algum veneno mortal? E se tiver laxante?

Olhando bem, parece suco de uva. Ou seja, líquido escuro. Ou seja mais ainda, líquido suspeito. Isso, Lune, você está conseguindo pensar, haha!

Legal, não posso perder a técnica. Olhe de novo, de novo…

— Aaah, por que não brindamos à você!? Você é tão doce! – respondeu Chantal.

— Por que não brindam a saúde da Lune, não estão aqui por isso? – intervém Nara, pela primeira vez, com um pesado tom sarcástico na voz.

Calem a boca!

— O.k., o.k., isso também – disse a ruiva, tendo como fundo sonoro um risinho preso de alguém e um "hum" de Nicole, que acabou me distraindo.

Vai Lune, vai, vai, você tem pouco tempo.

Bolinhas, tem bolinhas no suco. Mas isso não me diz nada, é normal ter bolinhas em sucos. Se bem que tem muitas bolinhas, mas não consigo imaginar o que são.

— Temos que falar algo sobre Luan também, ele não pode ficar de fora! – sei lá quem disse.

— Não, não precisa, é sério – Luan fala, provavelmente sorrindo.

O copo! O copo é colorido, não é transparente. Não dá pra ver o conteúdo, isso significa que ninguém vai perceber se tem ou não alguma coisa dentro!

Isso não ajuda. E agora, como eu me livro disso?

— Então brindaremos à sua humildade – exclama Nicole, olhando profundamente nos olhos de Luan – está decidido.

Ai Deus, é agora, o que eu faço? Pobre Nara, vai beber também.

O.k., hoje ela merece.

— Então, um br… – começa Chantal, mas, parece que por um voto de misericórdia, silencia. Aí, percebo um som esquisito ao fundo.

A campainha.

— Eu atendo! – grito, levantando num pulo, como se eu esperasse que mais alguém quisesse ir atender. Caminho até a porta com os joelhos em crise e olhando todos os cantos para ver se acho alguma lixeira ou recipiente ao alcance.

Eu nem me preocupei em imaginar quem seria. Eu agradeceria mesmo que fosse um criminoso fugitivo.

Um cara alto, bonito e com cabelos louros irradiando luz surge na minha frente.

— Phil, o que está fazendo aqui? – digo, com um olho mais aberto que o outro.

— Oi Lune – ele me cumprimenta com um sorriso amarelo.

HÁ! Nem acredito, tenho uma solução!

Diante desse fato, esqueço que ele é Phil, o desequilibrado responsável pela minha vergonha escolar dos últimos dias, e corro para a varanda, fechando a porta logo atrás.

— Escuta… – ele começa, inseguro – o professor hoje nos avisou que você não passou muito bem ontem… e eu quis vir te ver.

Mas eu não estava interessada em responder, sorria como nunca na vida. Eu achei uma solução, e sozinha!

Depois de uns segundos, ele notou meu sorriso e tive a ligeira impressão de vê-lo se animar. Talvez tenha passado por sua cabeça que eu sorria por sua causa. De qualquer forma, isso se dissipou quando, com um suspiro de alívio, despejei o líquido do copo na saída da calha.

Um dos momentos mais marcantes da minha vida.

Olho para Phil.

— E bem… e eu também queria te pedir desculpas, sabe, pelas minhas crises no colégio, não sei o que anda acontecendo comigo, mas ultimamente parece que eu ando saindo da realidade…

E nisso, há um silêncio. Da parte dele porque espera algum tipo de resposta e da minha porque ainda penso no líquido estranho, se dissipando no ralo mais próximo.

O clima ficou meio constrangedor. Quer dizer, ele veio até aqui, para me ver, para pedir desculpas, se redimir, como o inglês educado que é. Eu deveria estar atribuindo mais atenção ao rapaz. E também, vai que o cara não raciocina muito mesmo? Ele pode ter um ataque psicopata de repente.

Ouço risadas vindas da sala. Devem ter rido de algo que Luan disse. O que será que elas fariam se eu fechasse a porta na cara de Phil? O que será que Luan faria se…

— Quer entrar? – fala sério, sou uma alma muito bondosa.

— Claro – responde.

— Aconteça o que acontecer, não aceite o suco.

Talvez eu esteja sendo um pouco cruel. Estou convidando Phil para entrar apenas por interesses próprios, e o pior, interesses em outra pessoa. Na verdade, não pensei em nada na hora. Fiz o que senti vontade.

Por outro lado, de que adianta eu ficar me remoendo pelo cara que está lá sentado no meu sofá com cinco menininhas rindo de tudo e mostrando as pernas por qualquer motivo? Ele não está se importando comigo. É verdade que ele também não me destratou. Apenas não me dirigiu a palavra. Sim, eu sei, ele não é obrigado a fazer nada disso, ainda mais na frente de outras garotas. Mas… eu queria que ele pulasse nos meus braços e mandassem todas elas se catar. Lógico, isso não vai acontecer mesmo.

Mas fiquei com dor-de-cotovelo.

— Phillip! – Chantal (como sempre, fazendo o papel da anfitriã insuportável) grita – aceite um suco e brinde com a gente!

Phil me olha significativamente e diz que não, obrigado. Pessoa sábia, até me sinto emocionada em ver que acreditou em mim. Fico tentada a dar créditos a ele.

Vejo Luan.

Sabem para o que ele olha? Para Phil. E com o cenho meio franzido.

Até aí tudo bem, não fosse o fato de, em seguida, ele olhar com a mesma expressão para mim. Raiva? Possível.

Mas não. Não era só isso.

Pela primeira vez, quis realmente estar ali. Ele olhava para mim com uma expressão muito concentrada. Desejei muito que no momento estivesse batendo um ventinho, para balançar meus cabelos, tipo cena de filme…

Espera. Isso está acontecendo. AHÁ!

Como em câmera lenta, deslizo o pescoço mais a frente, na direção da brisa e dos meus fios claros. Então, capricho no olhar fatal. Pisco devagar.

Quando percebo, o seu cenho não está mais franzido.

— Bom, pessoas, então vamos brindar! À Lune, nossa colega, que infelizmente passou mal ontem, à Lise, que preparou essa bebida e também ao Luan, pela sua humildade e todo o resto!

E todas tomam um gole – no meu caso, gole fantasma – precedido por risos. Percebo uma veia saltar no pescoço de Luan.

A primeira coisa que me preocupou foi Nara, mas ela não tinha nem feito menção de erguer o braço.

Que droga, por que eu não pensei nisso!?

—… Lise, do que é esse suco, chérie? – Nicole pergunta, com uma ruga saltando no canto da boca.

— De uva, por quê?

— Nossa, como está doce… – uma garota perto de mim reclama.

— Está ruim? – diz Lise, fingindo uma voz sentida.

— Minha dieta foi pro espaço – a garota com a aparência mais meiga de todas soltou essa, num tom lamentoso.

— Poxa, me desculpe… – Lise lamentou ainda mais – talvez tenha exagerado no açúcar.

— Ah, Isabelle, não ligue para uma dieta boba, afinal, estamos numa ocasião diferente. Às vezes é bom dar uma escapadinha – consolou Chantal.

Pela expressão de algumas, tento imaginar o quão doce isso está. Mesmo assim, não vejo nisso uma idéia brilhante. Pelo jeito nem Luan, pois parece aliviado. Não muito, claro.

— Se tiver ruim vocês não precisam tomar – Lise fala num gemidinho que realmente dá vontade de colocá-la no colo. Eu não sei como ela consegue fazer isso, mas se eu soubesse, com certeza tiraria algum proveito.

— Ah… é que está… um pouquinho enjoativo… – diz Chantal.

— Tem um gostinho diferente também – Isabelle fala, olhando para o próprio copo.

— Tem tanto açúcar assim? – pergunta Luan, num tom sério, apesar de claramente relaxado. Aparentemente a ameaça de um perigo maior dissipou-se.

— É, um pouco – diz uma delas.

— Um pouco? Isso aqui está até grosso! – uma garota, provavelmente mais preocupada com as calorias do que com a bajulação, diz, cheia de nojo – é como tomar mel, açúcar e um vidro de adoçante juntos!

— Lise, o que você fez? – ele questiona, com uma insinuação óbvia, ao menos para mim. Todas interpretaram como uma pergunta comum, mas eu entendi o que ele realmente quis dizer: "Qual foi a merda que você jogou aí dentro?".

Phil não pára de se aproximar. Daqui a pouco lhe dou um tiro.

— Ah, Lu! – me assusto com o berro de Lise e a vejo se atirar em torno da cintura do irmão. Com o rosto escondido em seu peito (coisa que me causa uma inveja profunda) ela continua pesarosa – eu errei na mão, eu não queria contar porque fiquei com medo… eu estava colocando o açúcar, mas me distraí com um passarinho pousado na janela – meu Deus – e… metade do pacote caiu dentro da jarra.

Ouviu-se um "aaaaaah" uníssono na sala.

— Lise – Luan massageava os olhos – nós temos um vidro muito pequeno para guardar o açúcar, por que você pegou o pacote?

— Pois é! Mas o vidrinho estava quase vazio, então peguei o pacotinho…

— Lise, aquele "pacotinho" tem cinco quilos.

Eu vi muitas caretas se formarem. Até eu fiz uma.

— Bom… agora tem menos – ela terminou, sorrindo para o irmão. Seus olhos reluziam maldade.

Houve um silêncio. Luan sabia: a história do vidrinho vazio era mentira. O coitado está tão cheio que só falta explodir. Quer dizer, isso se ela não tiver jogado ele também. Mas, acho que esse detalhe não precisa ser comentado.

Desculpem – a pobre menininha incompreendida sussurrou olhando para os próprios pés. Isso comoveu muita gente. O problema é que comoveu Chantal até demais.

— Oh, queridinha, não fica assim… sabemos que foi sem querer. Olha, está um pouco enjoativo, mas te agradaria se eu tomasse mais um gole?

Para que perguntar?

— Uau, você faria isso? Isso ia fazer meu coração pular!

Chantal tem um coração bom demais. E dessa vez estou sendo mesmo sincera. Ela sorriu e, com muita, muita garra, tomou mais um gole, enorme. Eu a vi até mastigar a gosma antes de engolir.

Sabe, é uma pena elas não gostarem de mim. Se gostassem, poderíamos até ter uma pequena afeição.

Claro, sem considerar o fato de que seria necessário não estarem interessadas no meu cara.

Meu cara? Cale a boca Lune, você não tem cara.

Consciência maldita.

Eu não deveria dar atenção à você, mas isso é melhor do que escutar a conversa insuportável do quinteto sentado nos meus móveis.

Pelo menos, nesse momento.

7 comentários:

  1. Hmmm Lise é má. Mas o que ela colocou (realmente) naquele suco?

    Mais Aline!

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  2. Ahhhh perfeitoooo *-* sausahsauush ''Lise aquele "pacotinho", tem cinco quilos. [...] Bom ... agora tem menos." shashuahusuahshuahsuahasuahsuashuah muita comédia ... Ahh gente eu queruh Mais Cap.sss ... PLISS poste mais capitulos .. e (sem ser aquelas fãns ingratas) vc podia postar um pouco mais rpaiduh .. éq a curiosidade aperta que quase me sufoca ... s eu acabar morrenduh de curiosimania a culpada vai ser vc !! hsuasuhuha

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  3. Sabe que eu estou começando a gostar do Phill??
    Uhu, acho que o tombo fez o Tico e o Teco da Lune entrarem em ação!!!
    Bjs

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  4. ahhh!!! Eu adorei!!! a Lise e bem mázinha, hein... o suco devia estar muuuito enjoativo... irc!!! ahsuahsuahsuh Eu quero maaaaiiis!!!!!

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  5. Posta maaais!!!
    Eu estou ficando doida aqui, quero saber o q vai acontecer, pq, certeza, a Lise não coloco soh açucar nesse suco não!!!

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