domingo, 8 de novembro de 2009

Capítulo 9 ~ O Início da Maratona

Eu, pobre inocente, pensei que iria sair da enfermaria e, numa diversão infantil, rir um pouco à custa das coleguinhas desprezíveis. Sabe, para tirar algum peso de ter assistido o papel inverso a vida toda. Oh não, não que elas não tenham ficado frustradas com o que aconteceu entre mim e o novo alvo da escola. Na real ficaram e foi divertido por alguns segundos. É uma pena que não tenha durado mais.

Olha que legal! Descobri um novo imbecil na minha vida.

Como se já não tivesse muitos.

Assim que saio do ambiente com cheiro de remédio e convenço meu pai de que eu realmente estou ótima – não com uma doença em estado terminal, como ele pensa – avisto as tais garotinhas me olhando com cara de nojo – aquele tipo de nojo profundo. Nicole parecia tentar lançar um raio de gelo em mim.

Ótimo, maravilhoso, mas de que adiantou se logo em seguida o otário do cheira-minhas-nucas surgiu do nada com todos os seus problemas mentais?

Não, me diz… o que eu tenho a ver com os problemas psicológicos dele? Tenho a palavra "divã" escrita na testa?

Sabe o que eu acho? Acho que todas as pessoas deveriam vir de fábrica com um pisca de alerta bem na cabeça. Se o indivíduo fosse agradável, a luz verde estaria constantemente acesa. Mas, se ela oferecesse qualquer tipo de perigo para a sociedade, deveria piscar um vermelho e amarelo frenético, de deixar cego. E ter sirene. Tipo aquelas coisas sobre os carros de polícia, que abalam a visão e provocam surdez ao mesmo tempo.

Pois bem, já que isso infelizmente não ocorre, quem paga sou eu.

— Ah, Lune – sintam o drama. Isso tudo enquanto Phil segura meus ombros, com cara de quem me conhece desde criança e acabou de me resgatar de uma ameaça mortal – você está bem?

Eu balanço tranquilamente minha cabeça, sinalizando que sim. Mas, me arrependi instantaneamente porque… bom, como eu ia adivinhar? Depois disso, ele me puxa e, com um suspiro de alívio, me abraça. Muito forte mesmo. Tão forte que senti umas três costelas estalarem. Isso mesmo, na frente de todo mundo.

O que esse camarada tem na cabeça?

Eu fico com tanto, tanto ódio que… que… não faço nada.

Simplesmente não sei o que fazer.

Estou em estado de choque, certo? Queria que eu chegasse na voadora e ainda dissesse "vê se não toca, sacou, chéri?" e cuspisse no chão?

Tá, sei que sim. Mas não fiz.

Em apenas poucos segundos de contato íntimo, eu já estava ficando fora do sério, mesmo com toda a energia gasta tentando não demonstrar o quanto ficaria feliz o atirando de um penhasco. Como algum tipo de último pensamento racional pré-explosão psicótica, começo a empurrá-lo de leve, sabe, de um jeito meio disfarçado… e passei rápido para um estágio de maior de força exercida.

No final, eu estava dando pancadinhas.

Mas não é que o infeliz era persistente?

Claro que, na verdade, a infeliz ali era eu.

Várias pessoas no pátio olhavam com cara perplexa, enquanto outras, mais educadas, fingiam não estar vendo. É óbvio que grande parte olhava porque, bem, Phil não é o tipo de cara que você olha e diz: "misericórdia, abriram os portões do inferno" e sim o tipo que você olha e diz: "meu Deus, vou morrer, Gabriel veio me buscar".

Porém, apesar de toda essa cena ser ruim para minha já não alta aceitação pública, o pior mesmo, ao menos para mim, foi olhar por cima da criatura à minha frente.

Vai, eu sei que você é um gênio. Quem eu vejo saindo do vestiário, com o cabelo pingando e olhando diretamente para nós?

Bingo!

Encaro Luan e tremo quando ele desvia o olhar para o chão, virando de costas.

Quer dizer, não sei nada sobre os pensamentos de Luan, não mesmo. Mas minha revolta com aquilo tudo aumentou de tal forma que as pancadas passaram sem pensar para socos. E eu não tinha mais a mínima noção do que estava fazendo.

— Sai de perto de mim, AGORA! – grito absurdamente alto, o idiota dá um pulo de um metro para trás e eu resisto bravamente à tentação de cuspir na sua cara. Ao invés disso, saio correndo dali.

É, por pouco hoje não foi o melhor dia da minha vida.

Corro, corro e corro mais.

E faço isso muito bem, sabe. Várias vezes me chamaram para participar de competições. Eu não quis porque não encaro isso assim. Para mim, correr é uma forma de me sentir livre, sentir o vento no rosto, esquecer dos problemas, esse clichê todo. É mais uma terapia do que uma disputa. Muitas vezes também me chamaram de covarde. Pode até ser que eu seja. Não me importo. Eu continuo correndo.

Enquanto procuro um esconderijo num canto perdido qualquer do colégio, penso nas surpresinhas da minha vida. Se for a esse tipo de acontecimento que a velha se referiu lá no início dos meus cinco anos de idade – garotos alucinados pegando em mim e me agarrando à força na frente do único cara de quem me importo minimamente – ela poderia ter usado outra palavra no lugar de "interessantes". “Revoltantes” se adaptaria legal.

Encontro um lugar bem eficiente para me esconder: um pequeno espaço inútil entre duas colunas de uma parede, com um arbusto enorme na frente. Me enfio ali dentro, sentando ridiculamente no cantinho como uma criança faceira fugindo do castigo. Séculos depois, ninguém pareceu ser capaz de me encontrar. Na real, a hora do almoço chega e eu continuo aqui, feliz com minha covardia.

Droga, estou morrendo de fome.

Mas não vou por o pé para fora daqui, não, vai ser humilhante demais. Principalmente depois de ter saído correndo daquele jeito. Claro, me esconder é ainda mais baixo, porém… não enquanto ninguém me encontrar.

Sou covarde mesmo, confesso. O pior é que me sinto meio idiota, sabe, por ter fugido. Seria muito mais digno se eu tivesse ficado e lutado como uma pessoa madura e bem equilibrada. Mas aquele cara, o Luan, não sei… tem algo nele.

O que é isso agora?

Levanto a cabeça assustada e vejo uma mão surgir de um dos cantos do arbusto, empurrando as folhas.

— Oi! – Luan diz, me olhando com uma expressão estranha, algo como… "estou sério, mas morrendo de vontade de rir" – acha que já dá pra sair?

Merda.

— Lune! – Nara aparece do outro lado do arbusto não tão eficaz agora – Ah, que bom que te achamos! Eu estava doida atrás de você, te procurei por tudo…

— Acho bom alguém colocar um GPS em você, está matando sua amiga – ele diz pensativo e Nara concorda, parecendo profundamente aliviada.

De repente, não sei por que, sinto minhas bochechas esquentarem.

— Venha, vamos almoçar – Luan me estende a mão, que inclusive é o dobro da minha, e por alguns milésimos de segundo não sei o que fazer.

Vamos Lune, é tão simples. É só segurar.

Mas eu continuo olhando, como se esperasse que ela começasse a dançar.

É tão simples o que você tem de fazer. VAI!

Trêmula, ergo o braço.

Mais estranho do que minha cara de imbecil dopada foi quando meus delicados dedinhos tocaram os dele. Outro choque fino, na altura do peito. Ao menos desta vez não desmaiei, apesar da leve tontura.

Atordoada pelo que havia acabado de acontecer, levo minha outra mão até o lugar exato de onde veio o choque.

Meu colar.

6 comentários:

  1. aaaaaaah *-* que lindo que lindo que lindo *-*
    veei, quero muito o Luan, IUDSAHDOIUHDI
    dá ele pra mim please? *-* IHDAISUDJ

    paarabens Aline, c escreve divinamente beem *-*

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  2. Oiee, leitora nova =D
    Ta muito mara, adorei o Luan *-*

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  3. Esse capítulo está incrível também!

    Beijos!!!!

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  4. Bastante interessante sua estória. Me intrigou!
    ;P

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  5. Eu tô ficando cada vez mais curiosa com o que vai acontecer. A avó da Luna, o colar, agora o Luan.

    Ah, falando nisso... Luna e Luan. Só trocar o n e o a, IUASAHSIUHAS Achei engraçado, (?)

    Sua estória é ótima! A cada capítulo fica melhor, *-*

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  6. Estou seguindo faz pouco tempo e parei aqui nessa parte por enquanto.
    Estou adorando.
    Continue assim.
    Parabéns!

    [/aproveitando, meu blog *-* http://vidarazoeseemocoes.blogspot.com/

    bjo

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