domingo, 8 de novembro de 2009

Capítulo 7 ~ O Supra-sumo da Esquisitice

Cara, é difícil de entender.

Estou aqui, sentada no meio da grama – sozinha, pois Nara prefere assuntos relacionados à secretaria ao invés de fazer companhia à sua amiga amada – vendo de longe os coelhos pularem dentro de sua limitada jaulinha e pensando bem quietinha na minha vida. A grama está mesmo bem agradável, sério, todo mundo deveria experimentar isso aqui algum dia. Relaxa. Mas não, as garotinhas localizadas num grupo próximo têm de discordar. Tudo bem, deve ser mesmo estranho ver alguém sentado sozinho na grama, e o pior, em cima do orvalho. Provavelmente, quando eu decidir tirar meu traseiro daqui, ele vai estar molhado. Eu sei disso. E elas parecem saber também. Principalmente a menininha de cabelos ruivos.

É, olha a minha cara de preocupada.

Baixo a cabeça, a fim de procurar algum inseto bonitinho, e o engraçado é que bem quando penso que adoraria ver uma joaninha, uma pousa na minha mão. Eu pisco para ela meio intrigada, mas dou um sorriso surpreso em sua direção. Que coincidência, não acha? Mas ela está ali, andando no meu dedo, parecendo feliz.

Fico totalmente na minha, brincando de passar o bichinho de uma mão para outra, planejando o que farei depois que levantar. Ouço as risadinhas histéricas das garotas e reconheço, em meio delas, Nicole e Chantal, ambas da minha classe. Chantal parece estar liderando a alegria, provavelmente dizendo coisas engraçadíssimas sobre a maluca-estranha-de-olho-amarelo-e-bunda-molhada, enquanto Nicole balança os cabelos louros, sem abandonar o olhar gelado. Normal ela balançar aqueles fios lisos daquele jeito, pois há um grupo de garotos logo mais à frente.

O problema é: de tão entretida que eu estava com minha vidinha interior, não percebi algo vindo com velocidade em minha direção. Na verdade, só noto a coisa quando ela bate com força na minha cabeça. Posso até imaginar a cena cômica dos meus cabelos voando como um ventilador.

Instantaneamente grito, ouvindo a explosão de gargalhadas. Bem, deve ser engraçado ver a garota que você e suas amigas consideram o supra-sumo da esquisitice levar uma pancada na cabeça.

Eu mal consigo focar o chão. Seja quem for, a pessoa que atirou aquilo tem uma força realmente admirável, minha cabeça lateja tanto que o mundo todo parece estar aumentando e diminuindo de tamanho. As risadas ecoam alto no teto da cúpula, a dor aumenta ainda mais. Ou, porque dói mais, as risadas parecem mais altas. Não tenho certeza. Só o que desejo é um mundo silencioso onde Nicole e Chantal tenham punhados de grama dentro da boca.

E a joaninha ainda foi embora, minha consciência diz, como uma sobrevivente vitoriosa.

— Ei, você está bem? – uma voz distante ressoa um tanto preocupada e consigo ouvir passos apressados. O cara está correndo em minha direção. Levanto a cabeça para tentar ver quem é, mas a luz faz minha cabeça atingir o limite da dor.

Essa é a pior sensação que eu já tive em toda minha vida, podem mesmo por fé nisso.

Sei que nunca fiquei doente, nem nada, mas uma pancada na cabeça é uma pancada para qualquer um. Ainda mais se for uma pancada forte, com alguma coisa dura. Quando ouço a pessoa passar do chão de pedra do pátio para a grama, minhas mãos, braços e tórax começam a formigar intensamente. Claro, também noto o silêncio geral, não há mais uma risada sequer. Entretanto, depois de perceber essas coisas, só o que sinto é uma mão tocar meu ombro sutilmente e um choque agudo na altura do peito.

Mais nada.

Acordo tempos depois em algum lugar confortável.

— Ah… – meu resmungo ecoa num lugar silencioso. Minha cabeça ainda lateja e me sinto péssima. Tento descolar as pálpebras, mas a luz está forte e me obrigo a manter os olhos bem fechados. Já estou feliz com a opção de voltar a dormir quando alguém segura meu ombro e o sacode não muito sutilmente.

— Lune! – uma voz mais do que conhecida vem até meus ouvidos. É Nara, parecendo muito preocupada. Me preparo psicologicamente para ver a luz outra vez, sem empolgação. Pelo menos até outra voz me chamar a atenção.

— Opa – reconheço o tom masculino absolutamente calmo – tudo bem?

Com muita dificuldade, abro os olhos e os sinto lacrimejar. Limpo ao menos um deles, para poder identificar quem é o borrão desconhecido. Nara sorri feliz e está com uma gigantesca cara de alívio perto de mim, mas a pessoa localizada do outro lado é que me prende.

Olho para ele e me surpreendo. O que ele está fazendo ao lado da minha cama?

Espera. O que eu estou fazendo numa cama?

Num impulso, me sento, mas tudo roda e Nara se adianta em minha direção, segurando minhas costas, depois me deitando novamente.

— O que aconteceu? – pergunto na segurança dos meus travesseiros e puxando ainda mais o lençol para perto do rosto. Não sei por que, mas sempre que se está numa cama e há pessoas em pé olhando para você, se esconder sob algum pedaço de pano proporciona a ilusão reconfortante de invisibilidade.

Olho para o cidadão e ele dá um sorrisinho que bem pareceu carinhoso. Ou culpado.

— Desculpe, é tudo por minha causa – ele fala, olhando para minhas cobertas, passando a mão pelo cabelo com um jeitinho que é uma graça. Realmente, era culpa – eu estava jogando e chutei a bola com muita força. Ela passou direto, atravessou o pátio e bem… foi parar na sua cabeça.

— Eu estava voltando da secretaria quando vi você, fiquei tão preocupada! – Nara disse, segurando minha mão. Agora lembro que ela estava na secretaria, falando sobre algo desconhecido e misterioso.

— O que você foi fazer na secretaria? Eu fiquei sozinha! – falo, me sentindo novamente ultrajada pelo abandono.

Eles me olharam de uma forma estranha.

— Eu acho que ela ainda está fora da casinha, parece meio tonta – Luan diz para minha amiga. Eu me sinto confusa.

— Não – Nara sorri, realmente contente – ela está normal.

— Ah – Luan solta, ainda com o olhar duvidoso no rosto – nossa, me desculpe, eu realmente chutei forte. Também, fiquei preocupado, vai que você tem algum tipo de traumatismo ou algo assim? Seria assustador.

— É, seria mesmo – meu piloto automático concorda.

(…)

Tudo bem, eu sei que ele estava falando sério, mas eu ri. Sabe como é, impulso, eu esqueci que ele me fazia sentir esquisita.

Foi engraçado.

Quando percebo, vejo que ele também está rindo. Rindo de verdade, de um jeito sincero mesmo, com os olhos caídos parecendo tão carinhosos e… ele é bonito. Ele é lindo. Ele é…

Vou dormir.

Tá, a verdade é que me perco um pouco na sua expressão.

Além disso…

Faz covinhas quando ele sorri. Lindas covinhas. Covinhas realmente, realmente… fofas.

— Que bom que está bem… eu jamais me perdoaria – ele diz diminuindo a curvatura dos lábios e sinto minhas bochechas corarem quando seus olhos ficam sérios – me desculpe mesmo, Lune.

Lune.

Ele disse meu nome.

Eu sei, eu sei que isso não deveria parecer uma coisa tão fantástica. Mas foi como eu me senti. De repente, eu estava me sentindo como a pessoa mais importante do mundo, só porque ele disse meu nome.

Lune parece ser uma palavra muito mais bonita, depois disso.

Ele continuou mais animado.

— Eu gostaria de ficar, mas tenho que sair daqui antes que a mulher da enfermaria volte, ela não gostou muito de mim – eu concordo com a cabeça, mas no fundo penso que é uma pena terrível – te vejo mais tarde – Luan termina sua falação com um sorriso e vejo seus ombros largos se afastarem. Sua camisa está mal ajeitada sobre a regata do uniforme, usada na Educação Física e em jogos esportivos. A gravata está apenas jogada em torno do pescoço. Nem de muito longe isso é uma visão desagradável.

Quando o vejo fechar a porta, me sinto realmente sozinha.

— Ele não pode ficar aqui, a enfermeira teve que ir telefonar para seu pai e disse que os garotos só devem permanecer no quarto se acompanhados por uma das responsáveis pela enfermaria – Nara diz e, então, faz uma pausa.

Meu Deus, Lune! – ela guincha afobada, me fazendo pular de susto – Até quando você se ferra tem sorte?

Eu a olho como se fosse a criatura mais débil que já vi na minha vida.

— Você não viu a cena, por isso me olha assim, mas, meu Deus! – ela parece querer se abanar – menina, foi lindo! – ela senta na ponta da minha cama perdendo o olhar no nada à sua frente.

— Então conte logo – eu a apressei, tentando não demonstrar empolgação. O que deu mesmo muito trabalho.

Com os olhos brilhando ela começou seu relato cheio de emoção. A primeira coisa que fez foi contar, entusiasmada, todos os esforços de Luan para tentar ficar com a gente, mesmo com a mulher maluca o chutando daqui. É sério, brigaram e tudo o mais. Claro, não foi um sucesso, mesmo tendo posto – a palavra certa seria "jogado" – a camisa e a gravata que a mulher pediu. Ele ficou lá fora até a mal amada se mandar para conversar com meu pai e Nara o recolher.

Mas a parte boa mesmo foi antes disso.

— Eu estava voltando quando vi, de longe, um vulto branco passar rápido e você se inclinar bruscamente para o lado. Eu parei para assistir, tentando entender o que havia acontecido, então ouvi a voz de Luan em algum lugar. Logo depois ele passa correndo, numa visão incrível, tenho de dizer. Você não sabe o que foi aquele cara de regata preta correndo na sua direção, era como um daqueles salva-vidas gostosos nos seriados, sabe? Com uma regatas justas…

— Tudo bem, pule esses detalhes – ordenei um pouco irritada, não por não querer sabê-los, mas por ter consciência do que perdi.

— Ah sim – ela pisca – aí ele agachou bem ao seu lado e, assim que encostou em você, você despencou. Oh, meu Deus Lune, foi lindo… ele pegou você no colo! Sem a menor dificuldade… eu juro que quase chorei, de tão romântico que foi e não tenha dúvidas, ele é forte mesmo, mais do que aparenta, porque sabe, os braços dele são torneados, mas não têm aqueles músculos…

Eu solto um pigarro e ela olha para mim, corando. Pelo amor de Deus, eu tenho olhos, não preciso que outra pessoa fique falando toda emocionada das curvas sutis e firmes dos braços de ninguém. Ainda mais esse ninguém.

Continuando.

— Bom, de qualquer forma, quando isso aconteceu eu já estava me aproximando, pude contemplar a cara boquiaberta daquelas idiotas frescas sentadas ali perto, garota, eu quase pulei de alegria. Claro que não o fiz, estava preocupada com você e tudo mais – finalmente, ela pára de falar e pisca em minha direção, sorrindo cheia de solidariedade. Eu só a observo, intimamente me xingando, por estar desacordada num dos momentos mais bonitos da minha vida.

Mas claro que não poderia dar isso na cara.

Espera.

— Você estava mesmo preocupada comigo? Porque não pareceu – eu solto, irritada.

— Oh meu Deus, Lune, é claro que eu estava, você sabe que eu te amo, sua besta.

Nós nos encaramos com cara feia por algum tempo.

— Sei – eu digo, no final.

Ela pisca.

— Hum… foi só isso que aconteceu? – estou tentando parecer desinteressada, algo errado nisso?

Aparentemente sim, já que ela me olha como se eu fosse maluca.

— Não, srta. Não-estou-satisfeita-com-nada. Há mais uma coisa – ela levanta o queixo, provavelmente tentando parecer desafiadora – lembra-se do… Phil?

— Phil? Quem é esse agora?

— Mais conhecido como Sr. Steven-cheira-nucas – ela contrai os lábios para segurar uma risada.

Oh, sim, sim.

— O cara é pirado, completamente pirado. Assim que Luan pega você nos braços e tenta levar para a enfermaria, o cara aparece, tipo, do além, berrando coisas do tipo: "babaca-retardado-que-não-sabe-chutar-uma-bola".

Silêncio.

— É claro, é óbvio que Luan não ia revidar – ela continua – ele é um cara de classe, sabe? E adivinha? Presta atenção porque essa é a melhor parte: o único momento em que Luan reagiu foi na hora que o babaca-cheira-nucas se enfiou na frente dele, tentando tirar você dos braços dele.

— O que ele fez? – pergunto, já não conseguindo disfarçar a ansiedade, como uma espectadora fiel e curiosa.

— Ele? – Nara fala com um ar superior, amando ser o centro das atenções – Segurou você em seus braços ainda mais firme, o mirou com os olhos mais sérios que eu já vi na vida e disse: "sai".

(Silêncio).

— E Phil obedeceu como um cãozinho – completou, depois da pausa tensa.

Uau – eu arremato depois de outra pausa tensa.

— Vou te contar, esse Luan tem um poder incrível. Ele é surreal.

Olho para ela com uma expressão marota no rosto e ela retribui.

— É.

— O Phil é bem bonito também, mas ele conseguiu superar todos os outros garotos juntos ao se tratar de, bom, obsessão.

— Isso passa, você sabe.

— É – ela concorda.

Eu sei do que ela está falando e ela tem razão. Como eu já disse, os caras tendem a ficar burros quando me conhecem – as histórias detalhadas ficam para mais tarde – mas Phil está disparado na competição.

A responsável pela enfermaria reaparece minutos mais tarde, dizendo que meu pai está vindo me buscar. Ela ordena que eu fique onde estou até ele vir, mas eu me sinto ótima, levanto e saio do quartinho antes que ela consiga me manter prisioneira. Eu nasci de novo.

E agora, quem é a babaquinha que molha a bunda na grama? Hein, hein? Quem é a idiotinha que brinca com insetos?

Quem é que foi carregada para a enfermaria pelo cara mais gostoso do Lycée?

Desculpe, papai, mas você não vai precisar vir me buscar.

4 comentários:

  1. aaaaaaah *-*
    muito muito muito liindo mesmo *-*
    o Luan é toooooodo lindo , meldels, IUDSHASODI ve se nao faz isso com agente mais hein ? -.-*
    caso contrario eu descubro um jeito de atirar via internet :D UIHDASIUD
    muito bom*-*

    beeijos :*

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  2. Que ótimo que postou!
    Amei!

    Beijos Aline!!!!

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  3. Aline, flor, estou adorando cada cpt de Nienna. Sério, virei sua fã. E desejo do fundo do coração que ano que vem a srta. e eu estejamos na Bienal lado a lado. Vc autografando Nienna e eu Transmutados.
    Bjks.

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  4. Cara, ameei o Luan! FOFOOOOO!!!
    QUERO A NIENNA NA MINHA COLEÇÃO!!

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