quinta-feira, 1 de julho de 2010

Capítulo 35 ~ Conto-de-Fadas

Por um segundo, meu mundo pára. Me senti num filme de terror, bem naquele momento em que a mocinha está fugindo e, inocentemente, acha que escapou do perigo. Aí, começa a tocar aquela música sinistra e o assassino surge bem no seu cangote, como uma sombra. O susto é extraordinário, os olhos se arregalam, a respiração cessa e a pobre menina fica parecendo alguém com bronquite asmática, sugando o ar desesperadamente.

Aí, normalmente, a menina delicada decide que é hora de achar uma solução – e de fato sempre acha.

Não agora, porque a mocinha da vez sou eu.

Definitivamente, eu seria uma péssima protagonista de filme de terror. Talvez servisse mais para o papel da melhor amiga, aquela que nunca acredita que pode morrer é sempre a primeira a se dar mal.

Considerando que não havia assassino nenhum ali – a única coisa que Luan matou foi minha habilidade de pensar – só posso supor uma coisa: meus neurônios me odeiam. Me assustei dessa forma mesmo com um espelho deste tamanho socado bem na minha cara.

Graças à minha estagnada no tempo e no espaço, eu só volto a ter noção do que faço quando sinto algo frio crescendo perto do meu umbigo. Meus ouvidos supersônicos imprestáveis voltam a funcionar e eu percebo vozes altas vindas das mesas, gritos, um pandemônio.

Esquece, nada é mais importante que a água em abundância jorrando para cima do meu vestido.

— Merda! – eu grito, afastando imediatamente a mão da torneira.

Sim, claro, porque a água não me atacaria por vontade própria. No susto, acabei subindo as mãos alguns centímetros e tampei metade da boca da torneira.

Coincidentemente, a única metade que não me acertaria em cheio.

É, eu sou uma besta.

Sinto minhas bochechas esquentarem quando ouço Luan gargalhando da cagada que eu realizei.

— Lune! – ele diz, zombando sem vergonha nenhuma, entre gordos e incontroláveis risos – como você consegue?!

Se eu fosse um desenho animado, eu agora estaria com aqueles sustenidos irritados pulando na testa.

— Consigo o que? – meio cuspo a pergunta, mais morrendo de vergonha do que realmente ofendida.

— Não sei, como você conseguiu se manter viva até hoje? – (pausa para risos) – Já seria uma boa explicação – Luan ainda ria. E ria.

E ria mais.

— Digamos que destreza não é uma das minhas especialidades, mas fico feliz em te deixar tão alegre – eu disse rangendo os dentes. Isso fez ele gargalhar ainda mais, o efeito oposto ao que eu gostaria. Tenho vontade de acrescentar que estou torcendo para vê-lo com indigestão por tanto rir.

É verdade, ele não poderia ter uma indigestão porque nós ainda não comemos nada.

Quer saber, me ignore.

— Quer parar de rir de mim, por favor?! – eu cuspo, deixando transparecer claramente meu nervosismo agora. Ele enxuga as lágrimas dos olhos ainda rindo e olha para o salão. As vozes voltaram a subir e tento recordar se houve algum anuncio de mal tempo na TV.

Mas as vozes subiram bem quando eu… ué, por que…

— Caramba, esse povo está animado hoje – Luan comenta do nada e algo dentro da minha cabeça se racha. No mínimo, meus neurônios estavam começando a criar um pensamento e com a interrupção bateram a testa um no outro. Comentário interessante, Luan, obrigada por me fazer perder a linha de raciocínio.

Volto minha atenção para a pia, vendo o estrago que fiz. Tem água por tudo. Com um suspiro pesado, pego uma das minúsculas toalhinhas e me ponho a secar todo o mármore.

Sim, eu admito que, em grande parte, isso é uma distração qualquer para me concentrar em tudo que não seja Luan. Enquanto isso, ele decide parar feito um vegetal e ficar só me olhando, com um sorriso bobo e fofinho nas fuças.

— Você vai ficar aí parado me olhando ou vai dizer qual é sua pergunta? – digo, tentando fingir que não estou olhando para ele.

— Espera, eu estou pensando em uma coisa – ele diz, ainda com a mesma expressão, agora com o dedo em riste.

— Não… esquece – conclui. Vai entender.

— Luan, diga logo o que quer.

— Ah, sim, eu já disse, vim perguntar uma coisa – disse ele, com uma expressão confusa.
Ao mesmo tempo que quero amassá-lo como se fosse um bichinho de pelúcia, quero socá-lo, de verdade.

— Isso eu já sei, criatura abençoada, mas você não acha que deveria fazer a pergunta?

— Ah! É! – Luan grita, soltando mais risos.

Hahá, eu tenho tanta vontade de lhe dar um tapa às vezes.

Certo, estou me distraindo muito.

— Mas… não sei, considerando tudo isso… – ele continua, mais confuso ainda.

— Objetividade, Luan, por favor.

— Sim, então, pela situação lá, quem sabe você devesse ficar calma antes.

Mas hein?

— Anh… lá onde? – pergunto abestalhada, com uma sobrancelha mais alta que a outra.

— No salão.

— Por quê?

— Pelos fatos.

— Mas que fatos?

— Esses fatos – conclui, apontando para o salão com uma das mãos e para o teto com a outra, fazendo círculos.

(Silêncio).

— Que merda você está tentando dizer?

— Que você deve ficar calma.

— Sim, pelos "fatos"?

—… É. Vai entender – ele termina, sorrindo descaradamente.

VAI TOM…

— Luan, diga logo o que quer! – soco a pia, com um olhar alucinado e negro.

— Ei! Calma lá! – o cretino diz e dirijo meu olhar maligno para ele – tá bom, tá bom, eu digo… é simples, na verdade, eu só queria perguntar o que te deu hoje à tarde. O jeito que falou com as meninas… e por que deixou aquele cara entrar.

Penso nisso por alguns segundos.

Espera… eu entendi bem? Ele veio me indagar sobre a forma que tratei as visitas na minha casa?

— "As meninas" – comecei a responder entre os dentes e esfregando a pia com muito mais força que o necessário – eram visitas suas, não minhas.

— E só por isso você falou daquele jeito? – ele forçou ainda mais o assunto e antes que eu explodisse (o que era bem provável) acrescentou com voz mansa – se controle.

Lancei meu olhar homicida para ele novamente.

—… Por favor? – ele completou.

Eu queria gritar, juro que queria, mas ele – detesto admitir – tinha razão. Descontei em mais alguns centímetros de pia.

Além disso, ele pediu “por favor”.

— Isso é algum tipo de bronca? Ficou ofendido por eu ter sido cruel com suas visitas? Me desculpe por tê-las tratado tão mal.

— Não, nada a ver, isso foi divertido – diz ele com um sorrisinho inocente que me parece encantadoramente lindo – e não estou tentando lhe dar uma lição, só queria saber se… não há algum outro motivo para você ter agido assim.

— Elas serem falsas e cheias de segundas intenções sobre você já não é um bom motivo? – digo com fúria para o mármore. Engasgo.

Claro que existe um outro motivo, sempre existe um outro motivo, mas você nunca saberá qual é, porque eu não sou gente.

— Segundas intenções comigo? – ele pegou.

Espero que também não tenha pegado meu leve arregalar de olhos e o suor frio se formando na minha testa. Se ele interpretar isso de verdade, minha vida estará acabada.

Ótimo, quem precisa dela?

Tudo bem, eu preciso.

— Ah… é! – meus lábios se movimentam rápido demais e eu os sinto tremer com o desespero – É c-claro que sim – risadinhas nervosas – elas d-disseram que foram por minha causa, sabe, porque eu passei mal à noite e aí avisaram na escola que eu não tava bem, e-então elas foram lá me ver mas – mais risadinhas nervosas – veja só, não é engraçado?

—… O que exatamente é engraçado? – ele ainda está tentando processar minha explicação, dá pra ver em seus olhos. No fim das contas percebo que não falei coisa com coisa.

— É engraçado como… como… elas são falsas e acham que eu sou burra!

— Mas você é meio burra.

Enfio o calcanhar na canela dele. Depois, aprecio os breves segundos de silêncio enquanto Luan não pode abrir a boca, pois está tentando não urrar de dor.

— I… isso foi m-muito cruel – sua voz volta depois de um tempo.

— Não vou me desculpar.

— Certo, me ferrei nessa. Mas eu ainda não entendi as segundas intenções – disse o pobre, curvado, ainda massageando a perna e com uma voz pequena de sofrimento.

—… Pois é, né, ainda não entendeu – pense, Lune – então… segundas intenções sobre você porque elas foram te ver dizendo que era por minha causa!

EU CONSEGUI!

— Mas aí… não seria melhor ter dito que as segundas intenções eram com você?

Meu estômago dá uma cambalhota.

— HAHA! É, não é?! – viro para ele, com um escancarado sorriso falso e levanto a mão em sua direção para dar uma batidinha de gozação em seu braço. Ele se encolhe de medo do meu tapa.
Acho que o traumatizei de alguma forma.

Mas que exagero, era só uma brincadeirinha pra descontrair.

Sem perceber, começo a rir do medo dele. Ele parece ofendido e fecha a cara para mim.

— É, divertido, né? Você ainda não respondeu a segunda parte da pergunta.

Rio mais, sem peso na consciência nenhum, até me tocar das suas palavras e deixar meu riso morrer. Foi como se alguém chegasse e abaixasse o botão do volume. Vejo a cara presunçosa dele com fogo em meus olhos.

— Apostou tudo em uma falha de memória minha? Eu tenho pelo menos três bilhões de vezes mais neurônios do que você – ele provocou.

— Por que esse sorrisinho petulante? – devolvi sua provocação, tentando mentir para ganhar tempo – Acha que é difícil eu responder essa pergunta?

— Essas palavras são suas.

A expressão dele era vitoriosa. Eu não podia deixá-lo vencer essa, meus instintos não permitem.

Assumindo uma posição confiante que não era minha, me aproximei dele com todo meu charme esotérico. Luan não apresentou reação nenhuma, mas captei rapidamente seu peito arfar.

Antes de tudo, quero deixar bem claro que nunca faço coisas deste gênero, não faz meu feitio perturbar as pessoas assim. Na verdade, não me lembro de ter feito isso alguma vez na vida, mas, de repente, foi como se algo despertasse, algo natural, adormecido há muito tempo.

Eu não sei explicar, mas senti meus movimentos fluírem com uma graciosidade sobrenatural. Meus cabelos balançaram minimamente enquanto deslizava pelo piso sem ter certeza absoluta se estava andando ou roçando o chão. Olho para Luan com uma vibração desconhecida até por mim. Se me perguntassem, diria certamente que minhas íris estavam cintilando.

— Deixei Phil entrar simplesmente porque posso fazer isso.

Minha voz saiu baixa e chegou a seus ouvidos dançando, cheia de uma sensualidade que – JURO – não tive intenção nenhuma de produzir.

Agora sim, Luan reagiu. Uma de suas mãos partiu em minha direção e eu estava convicta de que seria agarrada pela cintura.

O problema é que sua mão partiu, mas não chegou. Ele a desviou, a jogou em seu cabelo e virou-se, ficando de lado para mim.

Aquilo me pegou tão de surpresa que até cortou meu clima. Pisquei sem entender nada.
E, sei lá porque, fiquei possessa por um aborrecimento sem tamanho. Quando ele recuperou a voz, eu já estava a ponto de enfiar um cabo de vassoura em seu nariz (é, nariz).

— Boa tentativa, gracinha. Mas não era essa a resposta esperada.

— Pois é essa que vai ter – disse com raiva. Ou pelo menos eu acho que era raiva, pois não sou muito do tipo que sente isso com freqüência.

— É sério, Lune. Não entendi, depois de tudo que aquele cara te fez você o recebe de braços abertos em casa. Eu fico pensando se…

— Eu não o recebi de braços abertos, o deixei entrar porque me pediu desculpas e sou muito generosa.

— Sei – ele ri, sem muita vontade, ainda sem me encarar.

— Sou, ué.

— Então, eu sei.

A raiva volta e sobe até minha testa. Ele toma coragem e olha para mim pela primeira vez depois de todo esse tempo e dá risada da minha cara vermelha.

— Não precisa ficar assim, eu estou brincando.

— Tudo bem Luan, olha…

— Você está interessada por ele?

— Como? – cuspo, ou melhor, quase vomito com a surpresa. Pensei não ter ouvido direito.

— Você gosta dele? – Luan repete, também pensando que não ouvi direito.

Olho para ele absolutamente incrédula.

— Você bebe?

— Só socialmente.

Realmente contenho um impulso de estapeá-lo, deixando chegar até ele apenas o olhar.

— Qual é, Lune! – sua expressão é de genuína surpresa, acho que não esperava um olhar irritado tão sincero quanto o meu – Eu só fiz uma pergunta, não cometi um crime nem nada assim.

Eu sei disso, seu idiota, mas o que eu posso fazer? OLHA A PERGUNTA QUE VOCÊ ME FAZ!

Ou, pelo menos, era o que eu queria ter dito. Ao invés disso, massageei os olhos, suspirei e disse com toda a consciência do mundo:

— Não, Luan. Não estou interessada nem por ele nem por ninguém, certo?

Notei seus olhos fixados em mim, com uma momentânea curiosidade. Depois de alguns segundos, ele esvazia o peito e abre um sorriso em minha direção, parecendo mesmo contente.

— Desculpe. Acho que eu nem deveria ter perguntado.

— Sem problemas – analiso seu rosto, meio confusa. Em alguns momentos é difícil interpretar se ele está sendo sincero ou apenas falando por falar.

— Não, é sério. Quer dizer, eu não tenho nada a ver com tudo isso, perguntei uma coisa íntima assim sem mais nem menos. Nossa, nada a ver, realmente, desculpe.

É surpreendente vê-lo envergonhado. Dá pra ver nitidamente que está se xingando em pensamentos.

— Não tem importância – digo, olhando pensativa para a pia branca – você pode me perguntar o que quiser.

—… O.k. Eu não sou de fazer essas coisas, sei lá o que me deu. Acho que vou parar de ouvir minha consciência.

Eu ri brevemente, mas parei quando percebi seu ar sério. Ele não estava brincando.

— Você veio perguntar isso por que ouviu sua consciência?

— É, volta e meia ouço ela. É uma voz chata.

Luan conclui e sorri em minha direção. Não consigo saber se está mesmo falando sério ou está brincando. Porque eu também escuto coisas aleatórias, às vezes.

Principalmente em sonhos.

Não que isso importe.

— Bom… – começo, insegura sobre o quê estou dizendo – acho que você deve ouvi-la quando achar que deve.

— É, mas dessa vez não tive sorte, te perturbei sem motivo.

“Teve um motivo”.

Legal, agora eu estou ouvindo coisas também. Olho para Luan e o vejo refletir sobre algo.

— Você não me perturbou… é só que não é uma coisa tão simples.

— O que não é tão simples? – disse, antes de conseguir segurar. Seu arrependimento ficou claro logo depois.

— Me interessar por alguém não é tão simples.

— Ah.

(Silêncio constrangedor).

— Acho que entendo o que está dizendo – completou.

— Entende? – pergunto, surpresa.

— Alguém comentou algo assim comigo, esses dias aí.

— Sobre mim?

Ele fez uma pausa tensa e encostou-se de costas na pia, cruzando os braços.

— Mais ou menos.

—… O que disseram, exatamente? – me prendo em suas palavras, temendo qualquer coisa que pudesse me comprometer, qualquer coisa ruim que mais alguém pudesse ter dito.

— Era sobre Phil, mas claro que você estava bem envolvida. Disseram para eu ter paciência com ele. Disseram… que sou uma exceção estranha. E algumas garotas hoje à tarde discutiram sobre você receber o cara em casa. Uma delas disse que você não poderia ter feito de outra forma, pois está bem acostumada com "merdas assim", pelas palavras dela. Não entendi muito bem, fiquei um tanto curioso.

Eu entendi perfeitamente.

A garota tem razão, eu estou bem acostumada.

— Tudo bem – comecei, a fim de tentar esclarecer pelo menos um pouco as coisas para ele – A questão é simples. Acontece que você é uma exceção. Quando os caras me conhecem não reagem como você reagiu, eles ficam meio fora de controle… como o Phil. Geralmente passa depois de um tempo, mas até lá… com você não. Você se manteve indiferente o tempo todo.

Não tenho certeza, mas, ao menos para mim, meu tom de voz evidenciou em muito o quanto isso me decepcionava. Eu queria, queria muito que ele tivesse interesse por mim e o fato de justamente Luan ser diferente parecia injusto.

Nem eu conhecia o tamanho desse rancor.

— É o que parece – Luan soltou, olhando perdidamente para o salão à nossa frente. Depois me fitou bem firme, como se finalmente tivesse conseguido coragem suficiente para me ver de verdade. Um arrepio teimoso percorreu minha fina penugem dos braços.

— Deve ser mesmo difícil – ele deixou as palavras escorrerem com a voz penetrante que usa sempre quando fala baixo demais. Isso me causou mais um arrepio.

— Não foi pra você – observei com um falso bom humor.

— É o que parece – falou em tom definitivo e sorrindo muito mais com os olhos do que com os lábios. Finalmente pude perceber o quanto estávamos próximos. Eu podia sentir o cheiro do colarinho da sua camisa apenas com minha fraca respiração. Nossos olhos deviam estar a, no máximo, trinta e cinco centímetros de distância, considerando a diferença de altura.

Ou seja: comecei de verdade a ficar nervosa.

Porém, ao mesmo tempo, não queria desviar. Essa proximidade me agradava em muito, quase tanto quanto o tom de avelã da sua íris.

— A propósito – ele tornou a me presentear com meu tom favorito de voz e, por incrível que pareça, se aproximou ainda mais – você está linda hoje.

Não vou me ater em descrever como meus joelhos quase cederam ou como desejei arduamente me esticar até alcançar seus lábios. Entretanto, não posso deixar de citar o jeito como, logo depois de ter dito isso, ele ergueu o braço e tirou, com muita doçura, uma mecha de franja da frente dos meus olhos. Depois disso, eu já não tinha certeza se aquilo era fantasia ou realidade, só sabia que a distância entre nossos rostos diminuía sutilmente. Nesse ponto, eu já não podia afirmar se estava ou não voando, mas juro que senti meus pés saírem do chão.

E exatamente quando dedos calorosos deslizaram por minha cintura e eu fechei meus olhos, Victoire chegou.

— Meninos… NOSSA, me desculpe!

Luan se afastou de mim com uma agilidade invejável. A última coisa que vi separada de mim foi sua mão, muito feliz em volta do meu corpo segundos antes. Ele foi tão abrupto que nem mesmo me enfureci. Ainda tentava me recuperar da falta de fôlego e, principalmente, da frustração, quando ela voltou a falar.

— Meninos, por favor, por favor, me perdoem, eu precisei vir com a desculpa de usar o banheiro, Otto estava querendo vir ele mesmo chamar vocês, o segurei lá o máximo que pude, mas não estava resolvendo mais, então… perdão! Eu sinto muito!

— Tudo bem mãe, relaxa – Luan acalmou Victoire e eu estava quase o socando, quando notei seu rosto. Suas bochechas estavam num vermelho vivo que nunca vi antes. Quando Luan percebeu que eu o estava observando, fingiu coçar os olhos para esconder a cor do seu rosto e virou de costas para mim, indo até Victoire.

Isso foi no mínimo muito, muito encantador.

— Você não vem? – ele gritou para mim, já desaparecendo por trás da parede que nos impedia de ver nossa mesa. Muito feliz, ainda sonhando, consegui descolar meus pés e andar com eles, porque é meio pra isso que eles servem.

Uma conversa estranha, com uma pessoa estranha, numa noite estranha e com um final quase perfeito, digno de contos-de-fadas.

Era tudo o que eu precisava.