domingo, 27 de setembro de 2009

Capítulo 3 ~ Coisas Incompreensíveis

Ah! A cidade grande… barulho, carros, aviões, fumaça e câncer. Fala sério, alguém realmente gosta de morar num lugar assim?

O.k., saindo do momento depressivo-nostálgico agora. Quando disse que daria tudo pela vida que tinha, talvez não tenha falado tão sério. Sim, eu daria mesmo, mas… não odeio morar aqui, é onde passei a maior parte da minha vida e Liège não é o buraco do mundo. Eu até gosto. E, também, sabe quando você está em algum lugar, sente ser totalmente o errado, porém, sabe que deve estar? É, talvez não. De qualquer forma, é o que eu sinto. Ainda creio existir algum propósito para todos esses anos em que me senti fora do lugar. Há anos não sei como é me sentir eu mesma.

Mais especificamente, desde que minha mãe me deixou neste lugar, com meu pai. Sim, deixou. O quê? Alguém por acaso pensou que ela me arrancaria dos braços doces de minha avó para me manter perto, ficar com a filhinha amada, ser mãe? Uma ova. Depois daquele dia, eu nunca mais a vi. Ela nunca nem apareceu para dar um “alô, filha imunda”. E logo descobri, também, que quando ela apareceu na porta do meu pai, mal sabia quem ele era. Eles tiveram um "caso" (sabe, esses “casos” relâmpagos depois de alguns goles de álcool) e ela desapareceu. Cinco anos depois voltou, dizendo: "você tem bela filha, parabéns, se vira com a garota". Ele me disse que não acreditou muito, inicialmente. Pra falar a verdade nem a reconheceu. Mas já falei sobre minha mãe, certo? Sabe Deus como, no fim ela fez lavagem cerebral nele. Mas eu reclamo? É claro que não, pois se aquela bruxa podre – sim, eu me sinto culpada por falar assim da minha própria mãe – não tivesse conseguido, eu (talvez) ainda estaria com ela. E meu pai é realmente, realmente, fantástico.

Então, se eu de repente tivesse a chance de voltar para o bosque, não seria com fogos de artifício. Pipocas, talvez.

Ah, e também tem Nara. Mas Nara merece muito mais do que um parágrafo rápido e sem importância. Mais tarde ela dá as caras por aqui.

Então, cá estou encostada na porta de vidro do meu quarto, olhando para o dia chuvoso lá fora e resistindo à tentação de ir para a varanda me molhar. Eu gosto quando chove. Me dá certa sensação de paz ver acontecer algo natural no meio do artificialismo que constitui essa coisa chamada metrópole.

Fui reflexiva demais, agora. Desnecessário.

— Lune, chérie, está pronta? – meu pai bate com cuidado à porta, já que ele não ousa entrar quando está fechada. E eu acho isso muito bom, afinal, já tenho elevações consideráveis abaixo do queixo e não me sentiria confortável em uma situação, mesmo ocasional, em que ele as descobrisse. Quer dizer, esse é o tipo de coisa guardada para alguém especial. Que pode nunca chegar a vir, no meu caso, mas esqueça. Além disso, o meu pai é daqueles que acreditam nos eternos onze anos. Continua dizendo, ainda hoje: "minha filhinha, tão pequenininha…".

— Sim, papai – disse, abrindo a porta do quarto, com a mochila no ombro. Ele me sorri, ajustando os óculos retangulares. Meu pai é um cara bonitão, sabe? Meio desajeitado, estabanado talvez, mas ainda sim é muito bonito. Faz pose de intelectual maduro, charmoso e solteiro. Ainda mais ultimamente, que anda se arrumando além do comum para o trabalho.

Ah, esqueci de dizer. Eu me chamo Lune. Lune Noire.

Noire não deve ser meu sobrenome, mas um tipo de segundo nome. Uma brincadeira sem graça da minha mãe, pelo menos é o que imagino. Não é o sobrenome do meu pai e não posso confirmar se é o dela, porque, bem, mamãe não consta no meu registro de nascimento. Na verdade, para mim, é meio confuso o fato de eu estar registrada como filha de Otto Johel Gautière, pois só o conheci com cinco anos e minha mãezinha, quando se trata de documentos, não existe. Sim! Veja só, pelo que diz meus papéis, eu não tenho mãe. Devo ter nascido de um pé de repolho.

Isso me faz concluir que: ou aquela mulher abduziu meu pai e o fez inconscientemente me registrar (sabe Deus como conseguiu isso sem apresentar um útero para justificar o nascimento), ou a certidão foi enviada pelos anjos. Um verdadeiro mistério, não acha?

Bom, ela pode ter oferecido uma grana gorda para o cara do cartório, também. Ou oferecido outras coisas.

Deixa pra lá.

O fato é que todos me chamam somente assim, minha carteira de identidade está assim, a carteirinha de estudante está assim. E eu gosto do meu nome, só não entendo o significado. Lua Negra, nada a ver. Quer dizer, eu pareço um Everest de chantilly. Papai costumava dizer, no inverno, para eu sair com roupas laranja néon, só para o caso de não conseguir me enxergar no meio dos flocos. Nem sequer meus olhos são escuros. Acho que por disfunção genética – mistura do cinza da minha mãe com o castanho do meu pai – meus olhos saíram… ah, bem, amarelos.

Sim. Amarelos.

Um amarelo estranho, mas ainda assim, amarelo.

Bem, na verdade, os raios é que são amarelos e em volta é quase, – ou meio – cinza. Sim, não dá mesmo para entender. E por favor, não comente nada, já tenho que agüentar muita gente dizendo, ou que é lente, ou que eu sou o anticristo. Eu não sei como isso aconteceu, mas não gostaria de ouvir mais do que já sou obrigada a suportar. O preconceito das pessoas me assusta.

Papai me leva todos os dias para a escola. Não é exatamente caminho para ele, mas ele sempre fez isso, não será agora que irá mudar mesmo que eu já esteja praticamente na reta final dos meus anos escolares. O maior problema disso tudo é eu chegar atrasada por sua causa, graças à demora para se arrumar. Não sei se devo arriscar uma pergunta inocente para tentar descobrir o que está levando essa criatura a querer ficar cada dia mais cheirosa, elegante e no mundo da Lua, mas por enquanto vou deixando meio quieto. Eu já suspeito mesmo, prefiro não confirmar.

Ao chegar à escola, desço do carro e corro até a porta, por ordens do meu pai, pois ele fica com medo de me ver resfriada. Eu, sinceramente, não sei por que ainda se preocupa tanto, já que, conforme os fatos, eu sou a criança que menos pegou doenças na história do universo. Com o total de, hum, nenhuma.

Isso mesmo, dá pra acreditar?

Nunca, nem gripe, nem sarampo, nem caxumba, nem micose.

Nem mesmo uma infecção, por brincar na terra e pôr o dedo na boca depois.

Também prefiro que você não fique fazendo comentários, isso já é estranho o bastante para mim. Cara, como eu queria ser normal. Sei lá, só uma conjuntivite para variar.

Enquanto corro para dentro do colégio, pisando nas poças e molhando toda a minha saia do uniforme, vejo alguém me esperando perto da porta.

— Lune! – Nara grita, visivelmente feliz, para que eu a localize no meio das muitas pessoas tão encharcadas quanto eu.

Nara. Uma vez vi num site que esse nome indica alguém que não se empenha muito em agradar as pessoas próximas. Bom, eu gostaria de poder dizer ao fracassado da internet que ele está errado. Você não conhece a minha Nara, amigo. Porque a minha Nara é a criatura mais doce, mais solidária e mais amorosa que existe na face dessa terra. Ela não se empenha em demonstrar carinho, não, sr.-sabe-tudo-errado-sobre-nomes. Ela faz isso naturalmente e pode ter certeza: as pessoas que ela ama se sentem as mais importantes do universo.

Nara é minha melhor amiga há anos, desde que eu mudei para cá e, um dia, a defendi de umas meninas bestas que estavam tirando onda só porque ela era gordinha. As garotas nunca mais se aproximaram de nós e eu nem lembro o que fiz demais. Elas de repente saíram correndo, caindo, tropeçando, uma loucura.

Pelo amor de Deus, a gente tinha acabado de aprender a dizer a idade usando mais de uma mão e o preconceito já existia. Meus amiguinhos da floresta eram mais evoluídos que isso.

Mas Nara, ao contrário de mim, não se importou com o que as meninas faziam, apenas porque não queria chatear ninguém. Muita gente acha isso terrivelmente idiota e, realmente, não é nada saudável, entretanto… caramba, existe coisa mais nobre? Eu acho que não.

— Oi, amiga – ela diz, arrastando as palavras, e me recebe com um abraço – como tem passado?

— Nara, a gente se viu ontem – digo sorrindo e lhe dou um beijo no rosto como cumprimento.

— É, eu sei – ela gargalhou – você está porca como sempre, vamos nos secar.

Longe da chuva, dou uma boa olhada para minhas meias e concluo que, no momento, elas estão variando entre o "imundo" e o "caso perdido". Não deviam nos obrigar a usar saia, principalmente em dias assim. Mas, sabem como é: "Nossa instituição é uma das mais respeitadas do país e nos esforçamos para manter a ordem exemplar. O uniforme serve para identificar nossos alunos caso seja ocorrido algum tipo de desrespeito contra a própria criança, a sociedade, ou a escola, sempre mantendo os indispensáveis traços do tradicionalismo". E blá-blá-blá.

Mas o que isso significa? Significa que o modelo ainda é quase o mesmo desde o tempo que mulheres não usavam calças. Tudo isso porque, um dia, um (a) babaca teve uma visão qualquer de alunos vestindo uniformes colegiais fofinhos, a achou linda e nos obrigou a seguir o padrão.

É.

Não que eu não goste de usar saias. Mas a gravata me incomoda.

Ah, em nosso colégio não é permitido entrar com o uniforme emporcalhado, por isso existem vestiários para que os alunos com vestimentas inadequadas possam dar um trato na situação. Também não é permitido entrar com os sapatos denominados "externos" – apenas um nome bonito para chamar o que você calça na rua – portanto todos têm de trocá-los. E tudo isso é para – eu me pergunto se cada orientador daqui recebe uma apostila com frases prontas para decorar, porque, é incrível, todos eles falam sempre a mesma coisa, todos os anos – "ensinar aos nossos alunos que os bons hábitos adquiridos na escola são mais que fundamentais, são um padrão de vida, formando, assim, cidadãos exemplares".

Na real, eu acho que a diretora viaja demais.

Qual outra explicação para por o nome do Papai Noel num colégio? Sim porque, pra quem não sabe, o famoso Papai Noel conhecido no mundo todo, originalmente, era São Nicolau. Por isso nosso uniforme é vermelho e branco. Dizem que antigamente era verde. Ah, sei lá.

Mas, quanto aos sapatos, eu nem reclamo muito, já que os internos são mais bonitos. Vermelhos. Me sinto a própria Dorothy, pena que não posso ter um cachorro. Papai é alérgico.

Nara abre seu próprio armário e me estende a toalha. Se tem alguém que verdadeiramente me conhece eis a pessoa. Nara sabe que eu nunca trago toalhas. É uma forma de me revoltar contra a mania lunática e obsessiva por higiene desse lugar.

Enquanto enxugo minhas pernas e assisto a arrumação sistemática de minha amiga – meias empilhadas do lado direito, mudas extras do uniforme separadas uma em cada cabide, essa coisa toda – a pergunto se verificou em que sala vamos ficar nessa imensa instituição de ensino.

E ela me lança um sorriso inspirador. Aqueles do tipo bem feliz, silencioso e derramando ansiedade.

E eu não entendi o que ele significava.

Depois de notar que não entendi, Nara revira os olhos, bufa e explica, como se estivesse ensinando uma criança de três anos a somar:

— Lune. Qual é o seu maior sonho desde que pisou aqui?

— Subir na árvore do pátio três! – eu respondo de imediato, feliz por raciocinado tão rápido.

Pela cara dela, respondi errado.

— Não, Lune. Sabe aquele antigo sonho seu, de estudar num bloco todo verde, cheio de plantas…?

Aí eu saquei.

Um sonho, é um sonho que se realiza – como já havia dito Cinderela.

Termino de vestir as meias limpas – cedidas por Nara – numa rapidez ímpar e nós atravessamos praticamente a escola toda. Maravilhoso destino. O único dos blocos da nossa escola que é completamente ao ar livre. Tá, a questão não é ser só ao ar livre, mas há muita grama nele. Muitas flores. Um pequeno lago artificial, com peixinhos. Até uma árvore realmente grande, muito maior do que as desse bloco e dos outros também.

Até mesmo uma horta. E coelhos.

Bom, é claro que existe uma explicação para toda essa área verde. Aqui também é onde se instalam todos os laboratórios. Inclusive, se me permite dizer, são muito legais. Principalmente o que tem uma simulação do ecossistema num negócio gigante de vidro, do tamanho de uma parede. Sem contar a fazenda de formigas. Eu adoro a fazenda de formigas.

Por toda a minha vida estudantil no Saint-Nicolas, cobicei as salas espaçosas, as portas de vidro e janelas grandes. E agora estou numa.

— Nara, eu não acredito – disse pra ela enquanto meus olhos cintilavam.

Eu corri imediatamente para conseguir o melhor lugar perto dos vitrais e sentei feliz da vida, lá no fundo, na penúltima mesa. Dava até para sentir o cheiro da grama molhada. Nara se sentou na minha frente e começou a organizar suas coisas enquanto eu admirava a paisagem verde e úmida do lado de fora. Não via a hora de apreciar tudo aquilo de perto. Por muito tempo, a escola foi uma tortura para mim. Ficar o dia todo sentada numas cadeirinhas pequenas dentro de um quadrado de cimento nunca foi muito confortável para mim. Principalmente quando as salas tinham como paisagem apenas um corredor com mais salas. Era totalmente claustrofóbico.

Juro, me desliguei completamente do mundo durante estes minutos de perdição. Tanto que levei o maior susto ao escutar uma voz nada comum aos meus ouvidos.

— Olá… – ouço o tom animado, vindo da carteira de trás.

— Ah… está falando comigo? – me viro, surpresa. Não sei se ele acabou se assustando com minha atitude brusca, mas de repente sua feição mudou. O sorriso charmoso dissipou-se em algo desajeitado assim que o vi. Olho para Nara com uma expressão de interrogação, a fim de verificar se o "olá" não era destinado a ela, mas minha amiga estava tão atônita quanto eu.

Ah, não.

Depois de alguns segundos de silêncio, como algum tipo de clique, o cara desatou a falar, do nada.

— Ah, me desculpe, não sei o que me deu, mas eu vi você olhando lá para fora e… senti vontade de conversar com você. Desculpe se te atrapalhei… eu realmente…

E calou a boca.

— Não, tudo bem… – eu disse cuidadosa, mas ele continuou calado, com os olhos em mim. O cara é um tanto confuso. Tentei procurar algo para falar, mas também não achei nada. Para nossa sorte, depois do que pareceu serem séculos, a orientadora entrou na sala.

Nem um minuto depois, um bilhetinho muito bem dobrado cai sobre minha mesa assim que a mulher começa a declarar toda a política da instituição, a mesma que cita todos os anos.

Desdobro o papel e vejo uma caligrafia torneada. Era de Nara.

É claro, quem mais me mandaria um bilhete? .

Lune, de novo? O que você tem, afinal?

Rabisco a resposta logo abaixo, com minha letra fina de extremidades exageradas. Um contraste horroroso com a dela.

Eu gostaria muito de saber também.

Capítulo 1 ~ Nostalgia

A vida te guardou surpresas interessantes, minha querida.

Lembro bem da minha avozinha dizendo essas palavras, tanto que nem parece ter acontecido há anos. Claro, naquela época eu não imaginava o significado delas e, para ser sincera, ainda não entendo. Só sei que, se ela disse, é verdade.

Tenho ainda uma visão muito nítida de uma casinha pequena e delicada, com plantas, flores, arbustos e uma agradável senhora baixinha parada em frente à porta. Ela acenava lentamente, com um sorriso sentido, para a menininha chorosa sendo arrastada jardim afora. Uma covardia completa da minha mãe, se quer mesmo saber. Quer dizer, eu tinha cinco anos e ela, sei lá, o quíntuplo disso, sem contar três vezes minha altura. Porém, as palavras ditas por aquela velhinha momentos antes da cidadã – aparentemente minha linda e bizarra mamãe – invadir o pequeno lugar e me arrancar de lá, nunca foram esquecidas.

Bom, óbvio que eu não queria ir, eu tinha uma vida muito da feliz. Acordava com montes de passarinhos na minha janela, passava momentos maravilhosos com minha avó, brincando todos os dias no bosque ao lado da nossa casa e comia todo tipo da comida mais maravilhosa de que tenho lembrança. Além disso, aquela mulher me arrastando pelo braço era praticamente um monstro, não tinha como não ter medo. Todo mundo deveria ter medo dela. Era medonha e não medonha no sentido físico de algo horroroso produzido no inferno. Uma das grandes dádivas da minha família é que todas as mulheres nascem com a alegria da beleza. A forma linda e sombria daquela criatura era admirável, sem comparação. Alta, esguia, com cabelos impecáveis e olhos magníficos. Quando andava, o balanço leve e delicado do seu corpo transmitia a ilusão de estar flutuando. Os cabelos lisos ondulavam no ar a qualquer simples movimento, pareciam feitos de seda.

Certo, seria um pouco injusto falar dessa forma sobre os cabelos dela, já que os meus são realmente parecidos. A diferença é que tudo fica mais bonito nela. E assustador também.

Mas imagine essa pessoa entrando em fúria dentro de sua casa, com um olhar de nitrogênio líquido, querendo arrancar a filha de perto de você. Eu não sei o que você faria, mas digo com total certeza: minha avó foi muito inteligente em não relutar.

Como se estivesse prevendo, vovó me chamou para uma conversa logo antes de mamãezinha linda aparecer. E é daí que vêm, acredito, minhas mais importantes lembranças – até porque, do bosque onde vivíamos, não me lembro de muito mais.

"Minha querida," começou, com a mesma voz bondosa de sempre, acariciando de forma estranha o alto da minha cabeça. "Você terá de ir embora".

"Por quê?" eu disse, já sentindo os olhos marejados. "A senhora vai me expulsar daqui?".

Ela soltou um risinho muito fraco, mas totalmente sincero.

"Claro que não meu amor… se eu pudesse ficaria com você para sempre. Mas não foi minha a decisão".

"Mas para onde? Eu não tenho nenhum lugar para ir…".

"Uma mulher bonita virá buscá-la".

"Mas… eu não quero… quero ficar aqui, com a senhora e meus amigos". Realmente, não faço idéia de que amigos eu falava, mas ela pareceu compreender muito bem. Coisas de avó.

"Nem sempre podemos ter o que desejamos… há coisas que não nos convém decidir… e seus amigos estarão com você onde você for, desde que não se esqueça deles. E eu também estarei". Nisso, ela faz outra pausa lenta e, com certa dificuldade, tira de dentro do longo vestido um fino cordão prateado com um pingente. Uma bolinha pequena, feita de algo como vidro, com uns fiapinhos e névoas brilhantes no meio.

“Tome isso e cuide, pois ele servirá para que não se esqueça de toda sua vida aqui e, mais tarde, lhe ajude a descobrir quem você é. Se você não me esquecer, de alguma forma ainda estaremos unidas". Ela faz uma pequena pausa e, com os olhos vagos, sem exatamente olhar para mim, sorri, dizendo:

"A vida te guardou surpresas interessantes, minha querida”.

Naquele momento, eu não fazia idéia do que ela pretendia com o papo de descobrir quem eu sou. Para ser sincera, ainda não faço. Mas se há algo de importante que eu trouxe da minha vida verde é saber o quanto aquela senhora tranqüila, de cabelos prateados e olhos, sim, cinzas, era sábia. Portanto, nunca deixei ao menos tocarem essa jóia, com medo de que algo acontecesse. Porque, de certa forma, mesmo não fazendo sentido para mim, sei a importância que fazia para ela.

Se me perguntarem se sinto saudades, não vou pensar um segundo antes de responder que sim. Morro de saudades e trocaria tudo por uma oportunidade de voltar. Queria uma chance de crescer lá, em meio às flores, correndo entre as árvores… passando horas com as borboletinhas engraçadas que pousavam nas pétalas todo fim de tarde e perseguindo os bichinhos estranhos que viviam pelo gramado para, logo depois, perdê-los de vista, sem nunca localizar suas tocas. Lembro vagamente, também, do grande cavalo selvagem que certa vez encontrei em uma clareira distante. Branquíssimo. Sua crina e sua cauda varriam o chão, de tão longas. Maravilhoso. Bom, tudo naquele bosque parecia maravilhoso, de certa forma.

Há quem ache exagerado esse meu amor pelas coisas da natureza, mas eu não posso evitar, faz parte de quem eu sou. Eu daria qualquer coisa para ter crescido com tudo isso. Mas logo depois da minha avó ter falado sobre as surpresas da vida para mim, minha carinhosa mãe chegou e me carregou embora.

E eu vim parar na cidade.

Epígrafe



Feels like I have always known you

And I swear I dreamt about you

All those endless nights I was alone


It's like I've spent forever searching

Now I know that it was worth it

With you it feels like I am finally home


I run a million miles just to hear you say my name


[Speechless – The Veronicas]



sábado, 26 de setembro de 2009

Apresentação - leiam!

Olá!

Primeiramente, acho importante esclarecer algumas coisas sobre a saga. Há muitos anos eu sonho em escrever. Tive várias e várias tentativas de histórias, mas nenhuma chegou a ser concluída e nenhuma era muito promissora, sendo bem sincera comigo mesma (LOL). Até que, um dia, eu estava sentada tranquilamente comendo alguma coisa (não faço idéia de pq as melhores inspirações sempre vem quando estou comendo) e, aí, meio num estilo Rowling, pula na minha cabeça a imagem de uma garota alta, muito loira, correndo contra o vento cheia de borboletas em volta. Ou, pelo menos, era o que parecia, porque junto com a visão toda, veio a certeza de que ela tinha orelhas pontudas, olhos amarelos e que as borboletas não eram tão borboletas assim.

A saga Nienna, a princípio, será formada de cinco livros. O primeiro, esse que vou postar aqui, se chama Cristal e já está disponível até o capítulo 37. Até a criação do blog, eu enviava tudo por email, e não era um comodismo mto legal. Dava trabalho e vale lembrar que sou muuuuuito preguiçosa :b
Então, a partir desse momento, não vou mais enviar nada por email, só postarei os capítulos aqui.

Outra coisa importante a ser dita é que, quando eu falo 37 capítulos, não é realmente 37. "Hã, como é, não entendi!" AEEE IOAHOIHA, brincadeira XD, eu vou explicar. É que eu tenho uma coisa com números pares, não gosto deles, me dão alergia, coceira e aquela coisa toda, então, eles não existem no meu livro e quem encontrar algum ganha um pão de queijo (mentira). Simplesmente, ao invés de numerar capítulo 1, 2, 3 e 4, eu numero 1, 3, 5 e 7.

SIM, eu não sou muito certa da cabeça.
Mas, uma vez minha mãe me disse que todo artista/escritor/músico é meio maluco, então não vejo problema em ser um pouco esquisitinha.

Bom, continuando.
Minha história, antes de ter um blog, teve uma comunidade. Hoje, graças ao bom Deus, tem praticamente 340 pessoas nela e é bastante movimentada, coisa que me ajuda muito a escrever mais. Acho que é só por causa de todo mundo que participa, elogia, critica que eu ainda tenho ânimo pra levar isso tudo adiante e alimentar meus sonhos de um dia ser uma escritora de verdade, com livros expostos em livrarias, sessões de autógrafos e tudo mais. Muito, muito, MUITO obrigado a todo mundo que me ajuda e me apoia, em especial todo mundo da comunidade Nienna. Vocês não sabem o quanto são importantes e fizeram diferença nessa saga. Luan manda um beijo na bochecha para todas e acredito que os meninos ficariam felizes em receber um beijo mágico da Lune tbm (LOL).

Antes de terminar essa apresentação/saudação/instruções básicas, é necessario informar meus planos para o final do livro. Eu sei que tem muita gente que não vê problemas em disponibilizar a obra completa na internet, mas eu não me familiarizo mto com isso. Siiiim, é triste, mas eu tenho medo. Então, eu quero registrar antes de mandar tudo para o público. Como estou revisando o livro no atual momento, ainda não posso registrar, mas já estou no finzinho de tudo, falta pouco para terminar e depois, para registrar, eh muuuuito simples. Portanto, o capítulo 41 será o último postado (comecei a postar o 39 esse mês, na comunidade), mas isso não é motivo para alardeeee!! Porque depois de registrado, eu vou arranjar uma forma de vender o livro todo, imprimir, encadernar e enviar por correio (tem mais informações sobre isso na comunidade) praticamente só pelo preço de custo. E não será uma impressão ou encadernação qualquer, mas com capa dura (meio furreba, mas blz) e letrinhas em prateado *-*

Espero que isso não impeça ninguém de ler, porque garanto, vai valer a pena (haha, mentira, não garanto nada XD). Mas a questão eh que me esforço muito nessa história e realmente, realmente, gostaria de continuar atormentando, alegrando, apaixonando mais pessoas, porque amo muito tudo isso (pá ra pá pápaaa). Amo as pessoas, amo a comunidade, amo elogios (LOL), amo mexer com as emoções dos outros e, acima de qualquer coisa, amo escrever. De verdade.

Portanto, espero o apoio de todos nessa caminhada e obrigado por tudo!!

Beeeijos :)

Ps: para quem quiser, aqui está o link da comunidade ~
Orkut - Nienna ~

Primeiro post! aeee :D

Sejam bem vindos ao blog!

Sei que demorei demais pra criar um, mas eu queria um template legal e meu Photoshop (como sempre) estava inutilizado graças ao maravilhoso Windows Vista. Minhas pretenções eram desinstalar essa porcaria e voltar feliz ao XP, mas aí me dei conta de que, bem, isso não vai acontecer tão cedo.

Bom, tanto faz.

O importante é que, a partir de agora, todos poderão acompanhar os capítulos de Cristal (primeiro livro da série) aqui, no blog, e vai acabar aquela confusão chata de enviar todos os - até o momento - 37 capítulos por email.
A pena é que, bom... eu não vou poder ver a reação de desespero de vocês o tempo todo! D:
Por isso, vamos fazer um trato: eu posto e vocês comentam :D

Yeeeeey!

Eu ainda não sei se os pedaços de capítulos novos serão postados aqui ou na comunidade. Gostaria que me ajudassem com suas opiniões sobre isso porque, bem, eu sou uma pessoa confusa LOL

Então, é isso.

Terminado o post de inauguração, vou começar a trabalhar no próximo, que será uma apresentação do livro - como tive a idéia, algumas explicações básicas e informações sobre a série.

Amplexos à todos!
(haha, ignorem a tentativa de parecer engraçada usando as palavras difíceis e inúteis que aprendemos no curso de Letras).

:***